Milhares de manifestantes se reuniram em Tel Aviv em 6 de junho para uma manifestação organizada por ativistas de esquerda e ONGs em Israel, sob a bandeira “Não à anexação, não à ocupação, sim à paz e à democracia”.
Alguns manifestantes brandiam bandeiras da Palestina, enquanto outros erguiam placas com escritos “Vidas palestinas importam” e “Chega de apartheid”. Muitos usavam máscaras e mantinham distância entre uns e outros em um esforço para prevenir o avanço do coronavírus.
Ao fim do protesto, a mídia israelita reportou que a polícia se confrontou com um pequeno grupo de manifestantes, prendendo violentamente ao menos cinco pessoas, e agredindo um fotógrafo do jornal Haaretz.
O Senador norte-americano Bernie Sanders dirigiu-se aos manifestantes, dizendo “Nunca foi tão importante manifestar-se por justiça, e lutar pelo futuro que todos nós merecemos.”
“Está nas mãos de todos nós manifestar-se contra líderes autoritários e construir um futuro pacífico para cada palestino e para cada israelita” disse Sanders.
O líder da Lista conjunta (Joint List) Ayman Odeh disse à multidão, “Estamos em uma encruzilhada. Um caminho leva para uma sociedade conjunta com democracia real, igualdade civil e nacional para os cidadãos árabes… A outra leva para o ódio, violência, anexação e apartheid”, reportou o Haaretz.
O protesto foi amplamente coberto pela mídia palestina e israelita, que destacou o evento como a primeira manifestação forte da esquerda israelita há tempos, desde que foi escanteada pela direita crescente em Israel.
Porém, muitos chamaram a atenção para o fato de as pesquisas terem mostrado que cerca da metade dos israelitas apoiam realmente a anexação, e que tal protesto no passado teria levado dezenas de milhares.
Em um artigo de opinião para o Haaretz, o jornalista israelita Chemi Shalev comentou a justaposição dos protestos com o Black Lives Matter nos EUA, escrevendo: “É inegável uma evidente lacuna: a maioria da opinião pública dos EUA hoje reconhece a legitimidade das reivindicações dos negros, enquanto a maioria dos israelitas - incluindo grande parte da centro-esquerda judaica - continua a ver os palestinos, ao menos aqueles além da Linha Verde anterior, como um inimigo mortal inclinado a destruir o país deles.”
“Israelitas liberais talvez se oponham à ocupação a princípio, mas sua simpatia pela causa dos palestinos na Cisjordânia e em Gaza é limitada, para dizer o mínimo” acrescenta Shalev.
“A maior parte dos israelitas, inclusive aqueles de centro-esquerda, vêem a anexação como uma sentença de morte para a solução de dois-estados, a qual enxergam como a única saída para prevenir Israel de acabar em um apartheid ou um Estado bi-nacional. Eles podem se opor àquele por razões morais, mas abominam este porque por fim implicaria em cumprir as demandas amplificadas de suas contrapartes norte-americanas: direitos iguais, inclusive o direito de votar, o que é visto como um dobre fúnebre para o “Estado judaico” com o qual eles continuam a se identificar” escreve ele.
O protesto em Tel Aviv veio apenas alguns dias depois de a administração Trump supostamente ter pedido a Netanyahu que “retardasse bastante o processo” de anexação junto à crise atual do coronavírus e aos protestos Black Lives Matter que têm acometido o seu governo nos EUA.
O Canal 13 de Israel citou oficiais veteranos israelitas, segundo os quais, durante uma conferência por vídeo-chamada de oficiais veteranos norte-americanos e israelitas, o enteado de Trump e conselheiro-chefe Jared Kushner advertiu Netanyahu a “conter o entusiasmo” pela anexação.
Netanyahu tem dobrado as apostas nas promessas de anexação nas últimas semanas, estabelecendo o 1º de julho como prazo máximo para começar o processo, o qual tem sido condenado por toda parte pela comunidade internacional como uma grave violação do direito internacional.
De acordo com reportagens de mídias israelitas, o primeiro passo no processo de anexação seria anexar unilateralmente 132 assentamentos ilegais na Cisjordânia, onde estima-se que residam 450.000 israelitas.
O restante do território prometido a Israel pelo plano de paz de Trump, constituindo quase 30% de toda a Cisjordânia, seria supostamente anexado em data posterior, sob acordo de divisão territorial por um “comitê de mapeamento” conjunto EUA-Israel.
Líderes palestinos têm-se oposto expressamente, sem cessar, aos planos junto com o Presidente palestino Mahmoud Abbas que anunciou nos mês passado, quanto aos planos de anexação de Israel, o fim de todos os acordos com Israel e os EUA.
O negociador-chefe da PLO Saeb Erekat chamou a comunidade internacional para impor sanções a Israel por seus esforços de anexação, dizendo “países, alianças e blocos devem sistematicamente rever todos os acordos com Israel, para garantir que não contribuirão à ocupação e dominação de terras e vidas palestinas.”
Tensões entre Israel e a Palestina devem aumentar à medida que se aproxima o 1º de julho, com muitos protestos antecipados espalhados e confrontos pelo território ocupado.