Social Justice

Como se alimenta uma cidade chinesa

Entrevistas com entregadores na China, traduzidas pela primeira vez desde que história de sua luta voralizou no WeChat.
Os entregadores são a base de sustentação de um mercado que gera quase 300 bilhões de yuans por ano na China. A pandemia de Covid-19 piorou as suas já difíceis condições de trabalho, porém deu origem a uma mobilização espontânea em plataformas da internet e a redes de ajuda mútua.
Os entregadores são a base de sustentação de um mercado que gera quase 300 bilhões de yuans por ano na China. A pandemia de Covid-19 piorou as suas já difíceis condições de trabalho, porém deu origem a uma mobilização espontânea em plataformas da internet e a redes de ajuda mútua.

A pandemia de Covid-19 que eclodiu na China no início do ano foi um teste sem precedentes para o nosso país. As duras medidas de confinamento adotadas pelo país minimizaramo risco de infecção cruzada entre pessoas que se deslocam e que se reúnem em multidões.

Entretanto, para que a população pudesse cumprir olockdowndecretado pelo governo e ficasse em casa confortavelmente para combater o vírus, os trabalhadores comunitários, os entregadores de aplicativos e de encomendas expressas tiveram de encarar maiores riscos e assumir uma carga maior de trabalho para suprir as necessidades materiais básicas de todos os moradores que faziam a quarentena.

De acordo com relatórios, quando fábricas e escolas em todo o país fecharam e os restaurantes passaram a aceitar apenas encomendas, 700.000 entregadores de alimentos permaneceram a postos, tornando a vida das pessoas mais fácil.

O que significa ser um soldado raso deste exército de milhões? Quem conhece as alegrias e tristezas de suas vidas? Apresentados pela Aliança de Entregadores de Aplicativos, procuramos Guo Yongqiang, de Xangai. Ele, por sua vez, convidou o "Irmão Long", de Lujiazui [Lokatse, em Pudong]. No final de abril, a nossa equipe de entrevistadores conversou com os entregadores de aplicativos.

"Nesta sessão de entrevistas, entre os entregadores de aplicativos está o Irmão Long, de trinta e poucos anos, de estrutura robusta e rosto corado, e, durante a nossa conversa, ele demonstrou energia e zelo. Sendo pai, ele parece nutrir muitos sonhos sobre o que deseja alcançar na vida. A outra pessoa era Yongqiang, de Gansu, um jovem alto e magro de vinte e poucos anos. Quando ele entrou na sala, bem trajado e de roupas limpas -da sua impermeávele camisa aos sapatos de couro - tive uma sensação de espanto. Ele não parecia o típico entregador de comida. Depois soube que ele havia conseguido umemprego como segurançaenquanto permanecia ativo como administrador do grupo WeChat de entregadores de aplicativo. Ele é um jovem que saiu de casa para buscar o seu próprio caminho no mundo aos 15 anos, que já foi enganado mais de uma vez e que fala de um jeito tímido, mas que consegue cuidar de si mesmo. Esses dois responderam às perguntas de quatro entrevistadores, e no final tinham muito mais a dizer”, recordou Ya Tong, um dos entrevistadores.

Nesta primavera inusitada, eles e os entregadores que representam sofreram um golpe - o número de pedidos caiu substancialmente e, no entanto, a licença de trabalhadores causada pela pandemia intensificou a concorrência na indústria de entrega de alimentos. Em meio à incerteza crescente, que caminho tomarão esses entregadores?

"Não temos escolha a não ser passar o sinal vermelho": uma restrição para os entregadores na era dabig data.

Na mídia, muitas vezes ouvimos que "entregadores são multados por furar o sinal vermelho", ou entram em colisão com pedestres, ou provocam conflitos por dirigirem rápido demais. No entanto, será mesmo que esses "entregadores" dão mais valor ao dinheiro que ganham com as entregas do que à sua própria segurança ou mesmo à segurança de outras pessoas? O Irmão Long explicou seu ponto de vista sobre essa questão..

"Na verdade, nós entregadores furamos o sinal porque não temos escolha, realmente somos forçados a fazê-lo. Por quê? Por exemplo, se um cliente faz um pedido e o tempo limite é de 30 minutos, quando o sistema nos envia o pedido temos só 28 ou 29 minutos. Quando chegamos ao negócio para pegar a comida, às vezes temos de esperar 2 ou 3 minutos. Quando a empresa consegue entregar a comida a tempo é muito bom, mas se não consegue e demora mais 10 minutos, só temos mais 10 minutos quando a comida chega às nossas mãos. Se você tiver cinco pedidos ao mesmo tempo, tem de correr para três ou cinco lugares diferentes, pegar cinco refeições diferentes e entregá-las a cinco clientes diferentes. Este tempo é realmente muito apertado. A plataforma não se importa. Só informa que o cliente fez um pedido, que tenho de entregá-lo em meia hora e penalizado se ultrapassar o tempo".

Mesmo que a Meituan dê certa margem de manobra aos entregadores em caso de atraso ou reclamações de clientes, é na verdade extremamente limitada, e eles não levam em conta os diversos problemas que os entregadores enfrentam sob condições reais do trabalho. O Irmão Long nos dá um exemplo. No início, a Meituan tinha um período de carência de sete minutos, e se a comida fosse entregue em 37 minutos, não se considerava que o limite de tempo tinha sido ultrapassado. Porém, se considerarmos que o motorista tem que pegar a comida, esperar e depois entregar a tempo e se levarmos em conta todos os fatores imprevistos que podem surgir, para os entregadores essa minúscula consideração está longe de ser humana. Além disso, no sistema de avaliação da Meituan, a porcentagem de erros aceitáveis a cada 100 pedidos é de 5%. Em outras palavras, os entregadores começam a ser penalizados após a quinta entrega atrasada. E mais, com base na porcentagem de pedidos que o motorista entrega a tempo. Isso significa que se a taxa de entregas a tempo de um motorista for baixa, o pagamento para cada pedido cairá de forma proporcional. Mesmo que 90 dos 100 pedidos restantes sejam entregues no prazo, o pagamento de cada pedido será descontado porque a porcentagem de erros está acima de 5%.

Então, quem controla e molda as condições de trabalho dos entregadores? Não são os gerentes nem os chefes de estação, e sim um sistema baseado em algoritmos que atribui os pedidos aos entregadores de forma automática. As plataformas de sistemas de entrega como a Meituan e Ele.me enviam automaticamente o melhor pedido aos entregadores, com base na capacidade do entregador e na rota de entrega, entre outros fatores. Mas esta "plataformização" das entregas cria também uma solução de "tamanho único" para a gerência. Até a taxa de erro é uma estimativa grosseira e conservadora, que dificilmente leva em conta as situações extremamente complicadas e altamente diversas enfrentadas pelos entregadores devido às condições meteorológicas, às condições das estradas, à velocidade com que diferentes empresas produzem os pedidos e outros fatores.

Ainda mais perigoso é o fato de que, neste tipo de sistema de avaliação, a baixa taxa de entrega pontual significa um baixo pagamento por pedido. Com o tempo você pode chegar ao ponto de não receber mais nenhum pedido, o que significa que foi totalmente expulso do processo de "avaliação", e perde até mesmo o direito de ser explorado. Neste processo, os algoritmos de IA controlam cada ação e a velocidade e a qualidade do trabalhador, que é forçado a ter um alto grau de autodisciplina. O resultado é que este tipo de trabalho está muito distante da liberdade, da flexibilidade e da alta remuneração que são anunciadas na promoção de contratação destas plataformas de entregas. Em vez disso, trata-se de um "modelo preciso e dinamicamente ajustado de controle do trabalho". Quando os entregadores supostamente escolhem de forma livre o seu horário de trabalho (na contratação a plataforma costuma anunciar: “vá com calma, leve a sério, ou chegue ao limite", dando a impressão de que os entregadores possuem um alto grau de escolha), eles na verdade têm em mãos uma ferramenta precisa de controle e são forçados a se adaptar para atender aos caprichos da IA. Assim, e não é difícil entender, os entregadores tratam o tempo como se fosse dinheiro porque na realmente não podem arcar com as conseqüências caso não alcancem o padrão de "pontualidade na entrega".

Além disso, como a plataforma transfere parte do papel de supervisão da mão-de-obra ao consumidor, na forma da classificação feita pelos clientes, uma má classificação pode sujeitar um motorista a uma penalidade de 20 yuans, e uma "reclamação" pode significar penalidades no valor de centenas de yuans. Como resultado, por temor de receber um pedido inoportuno que pode levar a uma má classificação por parte do cliente, muitos entregadores enfrentam uma enorme pressão emocional entregando os pedidos. Para evitar que os clientes tornem as coisas difíceis para eles durante as entregas, muitos fazem tantos elogios ao cliente quanto podem enquanto suportam o estresse, e colocam a própria dignidade e auto-estima no final das suas prioridades. Contudo, como o sistema de classificação da Meituan é anônimo, às vezes, mesmo que um motorista receba uma classificação ruim, não tem idéia de onde ela veio. Tudo o que ele pode fazer é sofrer em silêncio. O mais importante é que as multas por causa das reclamações não voltem para os clientes. "Quem sabe para onde tudo isso vai no final?" pergunta o Irmão Long.

Além disso, para evitar que os entregadores pressionem o botão "entregue" antecipadamente, a Meituan usa a função GPS da plataforma para rastrear a localização do motorista em tempo real. Se ele violar essa regra receberá diretamente até 500 yuans em penalidades sem qualquer aviso.

Além de transferir todos os riscos ao motorista e redirecionar a insatisfação do cliente da "plataforma" para os entregadores, as plataformas são incrivelmente severas ao lidar com as "penalidades" e as "penalidades por cancelamento". Elas adotam o fluxo de trabalho de "primeiro penalizar, depois informar, auditar e cancelar" ao lidar com as penalidades. Isto quer dizer que, não importa a situação, a responsabilidade é do entregador. Apresentamos como exemplo um guia de procedimento da Meituan: "Você vê que vai se atrasar, mas o cliente não atende o telefone. O que deve fazer?":

  1. O motorista deve chegar ao local designado e ligar para o cliente várias vezes. Caso ninguém atenda prossiga para o passo
  2. Detalhes do pedido -> Problema encontrado -> Não consegue falar com o cliente -> Tente discar todos os números de telefone do cliente. Se ainda não conseguir contactá-lo -> Relatar o problema.

    Se o cliente fizer um segundo pedido de entrega dentro de 30 minutos, você deve terminar a entrega.

    Se o cliente não fizer um segundo pedido de entrega dentro de 30 minutos, você pode cancelar o pedido sem penalidades. O pedido deve ser devolvido à empresa, e você deve tirar uma foto como prova e postá-la no aplicativo.

  3. Se o cliente fizer outro pedido você pode prorrogar o tempo alocado com base na sua situação, para evitar se atrasar.

    Se o cliente não fizer outro pedido, você deve cancelar o pedido. Em até 2 horas depois de conseguir devolver o pedido, você pode evitar a dedução do cancelamento e receber automaticamente o reembolso da taxa de entrega.

Este processo não só é tedioso e complicado, como o motorista também não recebe qualquer compensação extra pela segunda tentativa de entrega, e enfrenta incertezas adicionais. Quando o motorista incorre em penalidade por uma entrega atrasada porque é proibido entrar na vizinhança, devido às condições climáticas ou por outros motivos que independem dele, as plataformas tratam esta questão através de um processo semelhante. Isto quer dizer que, no processo de trabalho, os "rapazes entregadores" freqüentemente são colocados em desvantagem. A plataforma tem total poder de decisão sobre se, no final, o pagamento deduzido retornará à conta do entregador. Enquanto isso, os "entregadores" frequentemente ficam sobrecarregados de pedidos no decorrer do dia, e não têm tempo para defender os seus direitos.

As engrenagens silenciosas da cidade?

Impactadaspela pandemia, muitas empresas exportadoras tiveram seus pedidos drasticamente reduzidos. Normalmente, as fábricas de grande escala são lugares importantes que recebem a mão-de-obra excedente do campo e das pequenas cidades e aldeias. Atualmente, porém, para muitos jovens que estão desempregados devido ao fechamento das fábricas, chegar às cidades de Nível 1 para trabalhar na entrega de alimentos é praticamente a melhor chance dentre as opções restantes.

Como demonstra o "Meituan-Dianping: Relatório de Pesquisa de 2018 sobre os entregadores de aplicativos” 75% dos entregadores vêm do campo, e a maioria é originária das províncias de Henan, Anhui, Sichuan, Jiangsu e Guangdong. Quase 70% dos entregadores deixaram suas cidades de origem para tentar ganhar a vida trabalhando nas cidades de Nível 1 ou Nível 2. Quanto à idade, os entregadores são principalmente jovens, e aqueles entre os 20 e os 30 anos constituem quase a totalidade - chegando a 82% do total - da comunidade de entregadores de aplicativo. Quase a metade deles vive no local de trabalho atual há 9 anos ou mais e criaram raízes profundas na cidade. Com relação à distribuição por gênero, os homens respondem por 90%, e as mulheres somam 10%. A partir destes números, podemos tentar esboçar um retrato dos "rapazes entregadores" na vigorosa e ascendente China atual: eles são um grupo de homens jovens de origem rural, residentes urbanos de longa data que carregam a esperança de alcançar a autorrealização na cidade.

Uma vez na cidade grande, além de correr para fazer as entregas, como é a vida cotidiana desses entregadores? Que tipo de interação social, vida amorosa, circunstâncias de vida e planos pessoais eles têm?

Começaremos discutindo as circunstâncias de vida e o custo de vida. Tomando Xangai como exemplo, o Irmão Long nos conta que uma situação comum na sua estação de entrega localizada em Lujiazui é os entregadores alugarem em grupos, com oito deles dormindo em um apartamento de meros 20 metros quadrados. Este tipo de apartamento em Lujiazui custa cerca de 800 yuans por mês, mesmo que o custo seja repartido igualmente entre os companheiros de apartamento.

O Irmão Long também conta que quando um novo motorista chega a Xangai, tem de gastar cerca de 10.000 yuans primeiro, mesmo sem ter trabalhado ainda. Esta quantia inclui aluguel, depósito de segurança, compra ou aluguel (que também requer um depósito de segurança) de uma bicicleta elétrica, além de 300 yuans em equipamentos para o motorista e outras despesas básicas. Se o motorista já for casado ou enviar dinheiro aos pais mensalmente, a quantia restante para si é ainda menor.

Diante do alto preço do aluguel e do custo de vida, que atividades os entregadores podem fazer em seu tempo livre? Ou talvez, como a menina do "Sapatinhos vermelhos" de Hans Christian Andersen, que gira sem parar nem por um instante, eles têm de estar constantemente em movimento para ganhar a vida? Eles se tornaram os grandes fiadores da vida urbana rápida e conveniente, mas não têm como aproveitar as conveniências e extravagâncias que eles próprios criam.

Para os entregadores que já constituíram família este tipo de angústia é, sem dúvida, ainda pior. O Irmão Long e sua esposa não se vêem há muito tempo. Embora morem na mesma cidade, eles não tem opção de não ser uma versão de Romeu e Julieta do século XXI. Quanto aos entregadores que já têm filhos, as pressões e dificuldades da vida familiar são muito mais severas.

Unir e exigir: a Aliança de Entregadores de Aplicativo se tornará uma nova esperança de ajuda mútua destes trabalhadores?

Segundo as estatísticas, o número atual de entregadores ativos em todo o país atingiu 3 milhões. Eles são a base do mercado de entrega de encomendas que gera quase 300 bilhões de yuans anuais na China. A questão de como ajudá-los a conquistar relações de trabalho mais justas para realizar os seus sonhos merece a atenção de toda a sociedade.

Como as plataformas não permitem que os entregadores organizem sindicatos, é surpreendente que eles tenham usado as plataformas da Internet para criar uma mobilização espontânea. Yongqiang e Brother Long pertencem a duas comunidades distintas de ajuda mútua de entregadores.

A comunidade de ajuda mútua da qual Yongqiang faz parte se chama "Aliança dos Trabalhadores de Entrega", e foi fundada por um entregador de Pequim. O seu objetivo é unir os entregadores e proteger seus direitos. O chefe de Pequim é especialista no uso das novas técnicas de mídia para difundir o conteúdo de forma mais ampla. Ele faz vídeos sobre várias coisas ligadas à vida dos entregadores - é um verdadeiro mestre do vídeo. Para Yongqiang, os vídeos são não só um entretenimento como também um caminho para o auto-aperfeiçoamento. "Depois do trabalho, quando as pessoas se divertem com jogos eu posso estudar um pouco. O meu estudo é ver como os outros fazem vídeos".

O seu caráter, inclinado a encontrar o lado bom de tudo e manter uma perspectiva otimista, talvez esteja intimamente entrelaçado com sua adolescência. Certa vez o ex-soldado Yongqiang foi convencido por uma ex-namorada que conheceu na Internet a se juntar a um esquema de marketing multinível. Quando fugiu daquela experiência infeliz, depois de passar por inúmeras reviravoltas na vida, além de perdas materiais e emocionais, a experiência daquele período o levou, indubitável e imperceptivelmente, a uma transformação. Enquanto trabalhou na organização de marketing multinível, ele dormiu no chão por um longo tempo. Ele conta que percebeu que "a cama de chão é a maior cama do mundo, e isso é algo que nunca esquecerei".

A experiência de ter sido enganado e de afundar naquele atoleiro o levou a aprender a enfrentar tudo na vida ativamente e também lhe permitiu deslocar a olhar do indivíduo para o sistema, obrigando-o a desenvolver uma grande preocupação para com a vida e a felicidade da comunidade de entregadores. A tática de Yongqiang é construir uma comunidade cara-a-cara que permita aos irmãos e irmãs participarem de mais atividades e ter mais conversas e interações sociais de coração-a-coração. Com isso, eles ipodem fortalecer os laços de amizade e desestressar. "Espero conseguir organizar atividades offline nesta comunidade, como fazer uma bandeira da comunidade, preparar jantares offline onde todos dividiremos a conta, e assim por diante. Para que todos possam interagir plenamente e obter apoio".

O Irmão Long foi encarregado por Jiang Yilong, o fundador da Mídia de Entregadores de Hangzhou, para fundar a Mídia de Entregadores de Shanghai Lujiazui. Por que os canais de distribuição em massa se desenvolveram e se expandiram tão rapidamente, de Hangzhou até o distrito de Pudong em Xangai, e depois até o distrito de Baoshan? Isto ocorreu porque os fundadores dos canais de mídia dos entregadores fizeram muitas coisas práticas para ajudar os entregadores.

Jiang Yilong é justamente o criador do "mapa da numeração dos prédios para entregadores” da área de Hangzhou. Ele reproduziu os bairros residenciais num raio de 5 a 10 quilômetros num mapa bidimensional e indicou os números dos prédios. Isto tornou tudo mais fácil para os entregadores recém-contratados.

Além disso, os canais de mídia de Jiang Yilong e Brother Long ajudaram os entregadores de entrega a encontrar aluguel de bicicletas elétricas e de baterias de lítio, reparo emergencial de bicicletas, carregamento de baterias e outros serviços relativamente mais baratos. Este tipo de conveniência se estendeu e incluiu as necessidades básicas dos entregadores, tais como apartamentos acessíveis, trabalhos extras e assim por diante. Há também as "refeições do entregador" das quais o Irmão Long se orgulha muito. No centro de alimentação "Haitian Yijiao", em Lujiazui, ele conseguiu conversar para baixar o preço de algumas refeições de 14 ou 15 yuans para 10 ou 12 yuans. Isto ajuda os entregadores a economizar uma boa soma de dinheiro ao longo do tempo, e ajudou as empresas a resolver o problema da falta de clientes no período da pandemia.

Na comunidade de entregadores esta prática da ajuda mútua em áreas específicas se tornou uma ocorrência comum. Se alguém na comunidade passar por circunstâncias especiais e não puder entregar um pedido a tempo, ou se tiver necessidade de ajuda na vida ou no trabalho, os membros da comunidade se incentivam mutuamente a ajudar. Para os entregadores, isso não tem o propósito de buscar algo em troca, porque todos estão plenamente conscientes de que chegar à cidade grande para ganhar a vida não é uma coisa fácil. Se não se ajudarem entre si fica difícil se estabelecer na cidade.

"Onde quer que haja entregadores haverá canais de mídia". Este é o slogan que o fundador Jiang Yilong escreve em cada postagem nos canais de mídia dos entregadores. "Três sapateiros inferiores podem superar até mesmo um gênio como Zhu Geliang", o Irmão Long sorri para nós e diz estas palavras transbordando confiança.

Indagado sobre algum acontecimento que tenha lhe deixado uma impressão particularmente profunda trabalhando como entregador, o Irmão Long respondeu: "Nos últimos dois dias vi um irmão do lado de fora. Ele estava pedalando a bicicleta quando de repente um gato saltou na sua frente. Para evitar atropelá-lo, ele apertou o freio e caiu, acho até que quebrou as costelas na queda. Pedalei até ele para ajudá-lo a levantar. Justamente naquele momento outros dois caras também pararam e foram ajudá-lo. Eu perguntei se tinha alguma coisa errada.. Ele disse que não se machucou, mas ele ainda tinha dois pedidos na mão. Perguntei a ele, tem certeza de que está bem? Se não estiver, deixe-me ajudá-lo a fazer essas entregas. Ele se apalpou e respondeu que não era um problemão, mas me pareceu que não tinha sido uma queda leve, pois suas coisas se espalharam por toda parte quando ele caiu. Felizmente a comida não havia derramado, caso contrário ele teria que pagar por elas. Depois disso, eu o vi novamente e o ouvi dizer que só foi para casa descansar depois de terminar de entregar os pedidos. Ele passou dois dias deitado na cama, portanto não deve ter sido uma queda leve".

Nas perspectivas da sociedade, das plataformas e dos consumidores, estes entregadores desempenham o papel de dedicadas engrenagens na máquina. Talvez somente quando eles se encararem e encararem a si mesmos poderão realmente experimentar o respeito mútuo e o sentimento visceral de simpatia um pelo outro, e cada um se tornará um indivíduo animado. É esse sentimento de pertencimento que talvez tenha contribuído para dotar a comunidade de entregadores com essas características excepcionais de união, positividade e cooperativismo.

Epílogo

No segundo e terceiro dias após a entrevista, Ya Tong, uma das entrevistadoras, assistiu num grupo a alguns vídeos compartilhados pelo jovem administrador de um desses grupos em que entregadores eram empurrados e insultados por agentes de segurança pública ou pela polícia de trânsito. Ela convidou dois outros entregadores para fazer parte do grupo. "Várias semanas depois, perguntei no grupo se os pais que havia entre os entregadores precisavam de algum serviço de orientação para aprender a interagir melhor com os filhos que deixaram para trás. Eles disseram que a necessidade existe, mas os entregadores estão ocupados demais e não conseguem se organizar", disse ela.

Enquanto isso, outra entrevistadora, Cai Cai, espera que a sociedade seja capaz de tratar bem os entregadores: "Como no exemplo da atitude do porteiro, o cliente deveria ser simpático e tolerante. Quando ocorre um acidente na estrada, pequeno ou grande, se as pessoas pudessem dar uma mãozinha, por exemplo, ajudar a levantar uma bicicleta tombada, etc. Eles também são membros de uma família - na verdade, são a espinha dorsal".

Além disso, Cai Cai compartilhou também o apelo de um delegado do Congresso Nacional do Povo, o que nos dá certa esperança quanto à proteção dos direitos dos entregadores.

:Serviço de Notícias da China: "Tendo em vista as características particulares de novas formas de emprego, tais como o 'emprego informal’, estou esboçando uma política de previdência social viável para garantir os direitos desta força de trabalho... Proponho melhorar ainda mais as nossas políticas, e amar e cuidar dos nossos entregadores". Nas duas sessões deste ano, as "ocupações emergentes", inclusive os entregadores, se tornaram um tópico de discussões acaloradas entre os delegados. "Atualmente, novas formas de emprego estão se diversificando, e há um claro aumento nas formas de conseguir emprego".

Mais de 70% dos entregadores de aplicativos provêm dos condados e do campo. O seu nível educativo não é alto e eles enfrentam dificuldades, como a alta intensidade do trabalho, uma grave carência de instalações de apoio para conservar o emprego, e um sistema imperfeito de proteção trabalhista e de previdência social, entre outras coisas.

Para tratar disso, Yu Chunmei propôs uma moção para incorporar os entregadores à cobertura do seguro de compensação dos trabalhadores locais. Nos casos comprovados de lesões no trabalho de entrega em que todos os fatos forem claros, os direitos e obrigações forem claros, e ambas as partes envolvidas não tenham discordâncias, o Ministério de Recursos Humanos e Previdência Social cuidará para que o assunto seja rapidamente determinado e rapidamente resolvido. Ao mesmo tempo, também foi proposta a inclusão dos "entregadores de aplicativo" no "Diretório Nacional de Qualificações Profissionais" do Ministério de Recursos Humanos e Previdência Social, expandindo desta forma operações tais como o treinamento de habilidades vocacionais.

Este artigo foi originalmente publicado pelo "Awaken Club" no WeChat.

Available in
EnglishFrenchPortuguese (Brazil)SpanishGermanPortuguese (Portugal)
Author
Tangzhe Li
Translators
Cristina Cavalcanti and Lara Cezzarini
Date
12.10.2020
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