Em visita à cidade de Chicago, Illinois, em 1988, Eduardo Galeano pediu aos amigos que o levassem ao distrito de Haymarket. "Mostrem-me o lugar onde foram enforcados os trabalhadores que o mundo inteiro saúda todo 1º de maio", disse ele.
O escritor e jornalista uruguaio estava procurando um memorial aos Mártires de Haymarket que, em 1º de maio de 1886, se juntaram a centenas de milhares de trabalhadores em greve nos Estados Unidos para exigir o direito a uma jornada de trabalho de oito horas diárias.
Quando uma manifestação foi convocada três dias depois para denunciar os esforços da polícia para reprimir a greve, uma bomba—de um local ainda desconhecido—foi lançada contra a multidão. A polícia reagiu imediatamente, matando dezenas de trabalhadores a tiros. A lei marcial foi declarada na cidade e, na ausência de qualquer evidência que os ligasse diretamente ao incidente, sete dos principais sindicalistas de Chicago foram acusados e executados.
A repressão após o caso Haymarket confirmou a ameaça que trabalhadores americanos organizados representavam para a classe capitalista. Enquanto isso, o socialismo europeu ganhava terreno do outro lado do Atlântico. Após inúmeras iniciativas frustradas ao longo da década, a formação da Segunda Internacional, em julho de 1889, marcou a primeira vez que uma Internacional dos Trabalhadores uniu milhões de trabalhadores identificados com partidos socialistas em toda a Europa. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, os membros constituintes da Internacional representavam mais de três milhões de pessoas.
Realizado em Paris para marcar o centenário da Revolução Francesa, o Congresso fundador da Segunda Internacional, com 400 delegados, resolveu convocar uma manifestação global. Quando a delegação americana manifestou a intenção de marcar o aniversário do Caso Haymarket acontecido no 1º de maio, a data foi definida. "Em todos os países e em todas as cidades, num dia determinado, as massas trabalhadoras exigirão das autoridades estatais a redução legal da jornada de trabalho para oito horas", declarou a resolução do Congresso.
Nos anos seguintes, o Dia Internacional dos Trabalhadores serviu como um importante lembrete de que o trabalho sempre esteve na vanguarda da mudança social e política. Depois que a classe trabalhadora russa estabeleceu o primeiro Estado proletário da história, após outubro de 1917, o Dia do Trabalhador foi declarado feriado em toda a União Soviética. Seis décadas depois, no Dia do Trabalhador de 1975, o povo revolucionário do Vietnã conquistou sua libertação de mais de um século de domínio colonial.
Hoje, o legado do Dia do Trabalho sobrevive na luta de trabalhadorxs em todo o mundo. Na Índia, trabalhadores e trabalhadoras de plataformas estão se unindo para resistir à opressão dos algoritmos e à exploração de empregadores invisíveis. Na semana passada, a Internacional Progressista enviou uma delegação a Hyderabad para apoiar seus esforços e celebrar a histórica Lei do Trabalho de Plataformas e Serviços de Telangana de 2025.
"Esta é uma mudança histórica", disse a economista Jayati Ghosh em nosso evento App Worker Power (O Poder dos Trabalhadores de Aplicativo, em tradução livre). "Ao contrário de direitos anteriores focados em serviços prestados pelo Estado, como alimentação ou educação, este é o primeiro a intervir diretamente no mercado de trabalho. Ele vai além da assistência social e passa a regular o trabalho em si, assim como as leis de salário mínimo."
Enquanto isso, na Argentina, uma greve geral nacional—a terceira desde que Javier Milei assumiu o poder—paralisou trens, portos e aviões em 10 de abril, com centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras paralisando suas atividades. Em outros lugares, alternativas à austeridade "motosserra" estão florescendo. Na Eslovênia, trabalhadores estão se aproximando do poder. Liderado pelo Levica, membro da Internacional Progressista, o governo introduziu a Lei de Participação dos Empregados na Propriedade em 2024 para incentivar o controle dos trabalhadores e democratizar a economia eslovena.
Essas lutas, no entanto, não são isoladas. Elas até podem parecer distintas e distantes, mas, juntas, representam um desafio organizado e internacional à extração e exploração do capitalismo monopolista. O caso da Amazon oferece uma ilustração marcante.
No mês passado, na Sexta-feira Santa, milhares de entregadores da Amazon entraram em greve nos 41 centros de distribuição da Itália. "Alexa, encontre um contrato justo para mim", dizia o cartaz de um trabalhador, enquanto cerca de 10.000 motoristas intensificavam sua campanha por estabilidade no emprego. Para controlar a operação de US$ 2 trilhões de Jeff Bezos na Itália e no exterior, trabalhadores e trabalhadoras estão tomando medidas em cada etapa da cadeia de suprimentos da empresa com o apoio da campanha da Internacional Progressista para Fazer a Amazon Pagar (Make Amazon Pay).
A natureza interconectada do capital foi uma das primeiras razões para a criação do Dia Internacional dos Trabalhadores. Nunca se tratou apenas de empregos, salários ou condições de trabalho. O Dia do Trabalhador e Trabalhadora sempre celebrou a importância da luta mais ampla contra o imperialismo. Afinal, uma baioneta é uma arma com um trabalhador em ambas as pontas.
Em abril, trabalhadores no Marrocos foram as ruas aos milhares para protestar contra a cumplicidade do governo marroquino no fluxo de armas para Israel. Apoiados pelo Sem Portos para o Genocídio (No Harbour for Genocide), uma campanha encabeçada pela Internacional Progressista e pelo Movimento da Juventude Palestina, os sindicado de trabalhadores portuários do Marrocos foi alertado da chegada de um navio da Maersk carregando componentes de armamentos para o governo genocida de Netanyahu. Enquanto o sindicato conclamou que "trabalhadores, empregados e empresas" boicotassem o navio, trabalhadores pediram demissão ao invés de realizar o carregamento de armas.
Entretanto, o papel de trabalhadores e trabalhadoras por justiça na Palestina vai além das linhas do fronte. Por meses, trabalhadores no Booking.com tem se organizado contra os 55 anúncios ilegais de apartamentos na Cisjordânia e nas Colinas de Golã. Agora, a Internacional Progressista, junto a uma ampla coalização de organizações, está lançando a campanha Stop Booking Apartheid (Pelo Fim do Apartheid do Booking). Como um dos empregados da plataforma colocou: "já era hora de colocar um fim nessa cumplicidade—caso contrário o Booking.com se tornará uma vergonhosa e irremovível mancha nos nossos currículos e consciência." No dia 8 de maio, trabalhadores e ativistas em Manchester e Amsterdã vão levar nossa campanha aos portões da Booking. Nós convidamos você a se juntar a essa ação: Stop Booking Apartheid.
Em 1988, Eduardo Galeano deixou Chicago decepcionado. "Nenhuma estátua foi erguida em memória dos mártires de Chicago na cidade de Chicago", escreveu anos depois. "Nem uma estátua, nem um monólito, nem uma placa de bronze. Nada." Mas os mártires de Haymarket jamais serão esquecidos. Sua luta continua viva na luta incessante do nosso movimento por liberdade e dignidade, desde as docas de Tânger até as aldeias de Telangana.
Às 00:23 da madrugada de sexta para sábado, drones israelenses atacaram o Conscience Ship no momento em que a embarcação civil estava navegando em águas internacionais próxima a Malta.
Os trinta membros de bordo da Flotilha da Liberdade, que tentariam entregar itens de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, foram deixados sem energia e com risco de naufrágio depois do bombardeio causado por um incêndio a bordo e uma rachadura no casco da embarcação. O governo de Malta, entretanto, ignorou o pedido de S.O.S do Conscience Ship e o barco continuou sem recursos—ainda que sob o risco de novos ataques.
"Pelo bem dos nossos mais de 50 mil irmãs e irmãos martirizados em Gaza, e pelo bem das centenas de milhares de pessoas vivendo em Gaza, que se transformou numa prisão a céu aberto, nós iremos resistir", disse um membro e trabalhador humanitário da embarcação (Beheşti İsmail Songür). "Nós não vamos ser desencorajados por esses ataques, e vamos continuar lutando!".
Togetherness.org foi um dos muitos domínios da web adquiridos no início dos anos 2000 por Mai Ueda, ligado ao movimento Neen. Mai vê o nome de domínio como um poema, dizendo que o conteúdo "não é tão importante". O gráfico apresenta dois CDs "tocando juntos", evocando a obra seminal "Untitled" (Amantes Perfeitos) de Félix González-Torres. Untitled apresenta dois relógios de parede idênticos pendurados lado a lado, exibindo a mesma hora, embora gradualmente perdendo a sincronia, e foi referenciado por Claire Fontaine e Ahmet Öğüt, com ambas as obras apresentadas em newsletters anteriores.
Mai Ueda é uma artista japonesa de chá radicada em Kyoto e cofundadora do World Tea Gathering. Udea é uma colaboradora de longa data de Rirkrit Tiravanija, que nasceu em Buenos Aires em 1961 e cresceu na Tailândia, Etiópia e Canadá antes de se tornar conhecida internacionalmente por sua culinária no contexto da arte contemporânea, resultando no que hoje é conhecido como estética relacional. Com essa Arte da Semana, ao invés de pensar no booking.com, nós encorajamos quem nos lê a pensar no togetherness.org e na comunidade internacional que pode te receber se você cultivar boas relações.