Briefing

Newsletter da Internacional Progressista | No. 3 | Covas Azuis no Mar Egeu

Abandonados no Mediterrâneo
Na 3ª Newsletter da Internacional Progressista de 2024, nós discutimos a pesquisa da Forensic Architecture sobre aquilo que pode ser um dos maiores crimes do nosso tempo. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

Durante mais de uma década, migrantes, refugiadas e refugiados que fazem a travessia marítima da Turquia para a Grécia têm sofrido violência flagrante e bem documentada, incluindo detenções forçadas, prisões arbitrárias e espancamentos.

Desde Março de 2020, o Estado grego implementou um novo método de dissuasão violento e ilegal conhecido como “drift-backs” (“flutem de volta!”, em tradução livre). Migrantes, refugiadas e refugiados que atravessam o Mar Egeu descrevem ter sido interceptados em águas territoriais gregas, ou presos depois de chegarem à costa grega, espancados, despojados dos seus bens e, em seguida, carregados à força em botes salva-vidas sem motor e deixados à deriva de volta à costa turca.

Hoje, a Forensic Architecture (agência de pesquisa com sede em Londres) divulgou o maior conjunto de dados sobre retrocessos do governo grego no Mar Egeu, revelando uma campanha “sistemática” e ilegal para brutalizar e abandonar requerentes de asilo que se aproximam da costa grega.

O mapeamento revela que a fronteira da Turquia com a Grécia no Mar Egeu é “uma fronteira cruel de violência e ilegalidade numa proporção sem precedentes”, de acordo com o diretor de Forensic Architecture e membro do Conselho de PI, Eyal Weizman.

Os dados recolhidos pela Forensic Architecture cobrem um período de três anos, de 28 de fevereiro de 2020 a 2023. A plataforma cartográfica interativa hospeda evidências de 2010 “drift-backs” no Mar Egeu, envolvendo um total de 55.445 pessoas. Destes 2010 incidentes, descobriu-se que 700 ocorreram na ilha de Lesvos ou ao largo dela, 238 na ilha de Chios, 424 na ilha de Samos, 283 na costa de Kos, 212 na costa de Rodes e 123 no resto do Dodecaneso. Foram registrados 26 “drift-backs” profundos, o que significa que requerentes de asilo tiveram sua interceptação realizada nas profundezas das águas gregas antes de serem levados para a fronteira e deixados à deriva. Um caso foi registrado no Egeu Norte, ao largo da ilha de Samothraki. Descobriu-se também que a FRONTEX, a agência europeia de guarda de fronteiras e costas marítimas, esteve diretamente envolvida em 122 destes casos—embora tenha conhecimento de 417, tendo-os registado nos seus próprios arquivos operacionais, codificados e mascarados como “prevenções de entrada”. Em três casos, o navio de guerra alemão da OTAN FGS Berlin esteve presente no local.

Foram registrados 32 casos em que pessoas foram atiradas diretamente ao mar pela Guarda Costeira Helênica, sem a utilização de qualquer dispositivo de flutuação. Em 3 desses casos, as pessoas foram encontradas algemadas. Foi documentado que 24 pessoas morreram durante um “drift-back” e pelo menos mais 17 desapareceram.

Em resposta a essas descobertas chocantes, Yanis Varoufakis, secretário-geral do partido político grego MeRa25 e membro do Conselho da Internacional Progressista, disse: "Os progressistas da Grécia, que têm testemunhado em desespero os crimes contra a humanidade perpetrados pela Guarda Costeira grega e pela FRONTEX, já têm uma dívida imensa com a Forensic Architecture pela sua exposição meticulosa dos abandonos ilegais, misantrópicos e letais de pessoas vulneráveis que tentam cruzar o Mar Egeu. Este novo relatório removerá quaisquer vestígios de uma desculpa esfarrapada de que ‘não sabíamos’. Graças à Forensic Architecture nós sabemos. Portanto, o nosso dever de chamar a atenção do governo grego e das autoridades da UE é agora indiscutível. A bola está agora do nosso lado."

Nós pedimos que nossos leitores e leitoras espalhem a notícia sobre este conjunto de evidências de crimes terríveis contra requerentes de asilo. 

Você pode assistir, compartilhar e explorar os dados resumindo as descobertas aqui.

Últimas do Movimento

O novo presidente da Guatemala toma posse

Bernardo Arévalo foi oficialmente empossado como Presidente da Guatemala esta semana, após meses de esforços desesperados da elite do país para impedir a transferência de poder. Esses esforços e a ameaça real de um golpe continuaram no próprio dia da posse.

A Internacional Progressista esteve no local, na Cidade da Guatemala, para ver em primeira mão essas tentativas de sabotagem antidemocrática, tendo sido convidada para a posse pelo partido Movimiento Semilla, membro da Internacional Progressista.

Todos os esforços foram feitos pelas forças reacionárias para travar e atrasar a tomada de posse tanto de membros do Congresso como do próprio Bernardo Arévalo. Membros de Semilla e de outros partidos foram até bloqueados dos procedimentos do Congresso para impedir a transferência de poder. Em resposta, o povo e os seus representantes eleitos mobilizaram-se para defender a sua democracia, tanto dentro quanto fora do Congresso Nacional, no centro da Cidade da Guatemala. Eles foram recebidos por esquadrões de choque e resistência da polícia, que ainda recebia ordens do governo de saída. A esta mobilização popular pela democracia juntou-se a pressão internacional que exigiu a tomada de posse do Presidente eleito Arévalo.

Depois de mais de 12 horas tensas em que deputadas e deputados eleitos do Semilla foram impedidos de ocupar os seus lugares e de iniciar a tomada de posse presidencial, essa pressão salvou a democracia guatemalteca. Deputados e deputadas do Semilla foram empossados como independentes, eleitos para o poderoso conselho executivo do Congresso, e o presidente Arévalo foi finalmente empossado.

No momento em que escrevemos essa newsletter, o Tribunal Constitucional revertia  mais uma vez a eleição interna do Congresso para eleger os seus próprios líderes, um caso que visa atingir o Semilla ainda mais, mesmo quando o partido assume o seu papel como partido do governo. A Internacional Progressista continuará a apoiar o povo guatemalteco na sua luta por democracia e pelo progresso social.

O Mundo apoia o caso da África do Sul contra o genocídio perpetrado por Israel

Mais de 1.500 organizações assinaram um apelo apoiando o caso da África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça.

Agora, a Coligação Internacional para Acabar com o Genocídio na Palestina está lançando um apelo global à mobilização. 

O primeiro dia da ação global recebe o nome de “Tire as mãos do Iêmen!”, e acontece no dia 19 de janeiro. O segundo vai ser chamado de “Solidariedade com a África do Sul!”, e acontece em 24 de janeiro. Já o terceiro, “Condenar a cumplicidade ocidental!”, está previsto para o dia 31 de janeiro.

Levando a Amazon para os tribunais

Esta semana, o Save Our Sacred Lands, um grupo indígena Khoisan que tem feito campanhas contra a sede da Amazon na Cidade do Cabo, África do Sul, que está construída na sua terra sagrada, apresentou acusações de fraude num tribunal da Cidade do Cabo contra o promotor privado da sede.

Na luta contínua dos indígenas Khoisan contra o projeto, a Amazon permaneceu completamente em silêncio. Você pode assistir ao líder Khoisan, Tauriq Jenkins, sendo entrevistado sobre o caso aqui.

Speculative Voyage, da exposição Leviathan do artista Shezad Dawood. A obra é inspirada pelos refugiados e refugiadas que perderam suas vidas tentando chegar à Europa.

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Date
19.01.2024
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