Briefing

Newsletter da Internacional Progressista | No. 5 | Falando em alto e bom som

Israel planeja limpeza étnica enquanto os EUA punem coletivamente a população palestina.
Na ª Newsletter da Internacional Progressista de 2024, nós trazemos notícias não só de Israel, mas também da reação de seus aliados (EUA e Reino Unido) após a decisão histórica da Corte Internacional de Justiça sobre a plausibilidade do genocídio contra a população palestina. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

A população palestina sabe há quase um século o que o Estado de Israel quer fazer com ela: negar os seus direitos, expulsá-la das suas terras e tratá-la como uma preocupação de segurança e não como um povo. O Estado israelense tem desfrutado do total apoio das elites ocidentais, que ajudaram a construir dois mitos: que a resistência palestina é “terrorista” e que a ocupação israelense é uma “democracia”.

Os líderes de Israel ajudaram os seus apoiadores ocidentais, encobrindo os seus crimes numa linguagem formal que evitava dizer o que de fato estava acontecendo. Se olharmos para o que Israel estava fazendo, veríamos que a anexação era o objetivo, e o apartheid e a limpeza étnica o método. Mas as negações retóricas prevaleceram. Israel insistiu que não estava a fazer o que claramente fazia. E no Ocidente, os sussurros do colonizador soam mais alto do que os gritos angustiados dos colonizados.

A atual campanha genocida contra o povo palestino em Gaza removeu das elites ocidentais a desculpa de que Israel não dizia o que estava acontecendo de verdade. Os mais altos funcionários de Israel—o Presidente, o Primeiro Ministro, o Ministro da Defesa, o Ministro das Finanças, o Ministro da Segurança Nacional, etc.—têm falado em alto e bom som com uma intenção genocida clara, aberta e desavergonhada. Os sussurros do colonizador transformaram-se em gritos.

Na sexta-feira passada, a juíza Joan Donoghue, ao ler a decisão provisória do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) na sua qualidade de Presidenta do Tribunal, citou algumas destas palavras genocidas. Certamente a sua voz, vinda da boca de uma antiga funcionária do Departamento de Estado dos EUA, seria ouvida tanto pelo punhado de estados ocidentais que apoiam Israel como também pelo próprio estado de Israel? Certamente elas alterariam suas ações para mascarar sua culpa e cumplicidade?

Mas claro que não. De fato, o oposto.

No domingo, apenas dois dias após a decisão do TIJ, 12 ministros do governo israelense participaram de uma conferência sobre a colonização de Gaza. Ou, dito de outra maneira, de uma conferência que visa explicitamente a limpeza étnica dos palestinos e palestinas que vivem em Gaza. Os delegados discutiram forçar os palestinos a deixar permanentemente a Faixa de Gaza e substituí-los por colonos israelenses. Os ministros do governo fizeram discursos e dançaram com os seus colegas fascistas. Eles estão dizendo o que nunca foi dito, e agora em alto e muito bom som.

No dia anterior, apenas um dia após a decisão do TIJ, em que o mundo ouviu falar do terrível desastre humanitário em Gaza, com praticamente toda a população deslocada e dependente de ajuda humanitária para evitar a fome e a morte, os EUA, a Alemanha e o Reino Unido retiraram financiamento da UNRWA, a agência da ONU que fornece essa ajuda à população palestina.

Israel e os EUA empenharam-se numa estratégia de comunicação clássica—e eficaz—de mudar de assunto quando as notícias do momento não te colocam sob a melhor luz do palco. O mais alto tribunal do mundo que afirmou a existência do povo palestino e a plausibilidade de Israel estar cometendo um genocídio contra ele não era o ciclo de notícias em que os EUA e Israel queriam ficar presos.

E assim, os EUA apoiaram a mentira de longa data de Israel contra a UNRWA, expressa pelo seu embaixador na ONU durante este conflito, de que a agência da ONU é efetivamente uma frente do Hamas. Esta posição absurda é uma linha argumentativa de longa data levada a cabo por Israel: tudo o que Israel não gosta e tudo o que Israel o que bombardeia é “Khamas” (um perverso jogo de palavras com “Hamas”, Khamas poderia ser traduzido do hebraico como violência)

Mas os EUA, o Reino Unido, a Alemanha e outros países que participaram na estratégia de ataque à UNRWA para “fazer avançar a história” não estão apenas fazendo girar a roda da história para Israel. Esses países estão participando ativamente na punição coletiva do povo de Gaza. Os EUA e o Reino Unido passaram da cumplicidade com a campanha genocida de Israel para a culpa absoluta.

O TIJ pode ter falado em nome do mundo quando afirmou a plausibilidade do genocídio de Israel contra o povo palestino. Mas falar a verdade ao poder por si só não pode desmantelar a máquina de guerra israelense e a política imperial dos EUA na Ásia Ocidental. Não existem atalhos para a decolonização.

Na verdade, o fato de a audiência do TIJ ter ocorrido é uma prova de que o equilíbrio material de forças está mudando. Estão surgindo novos caminhos para os oprimidos enfrentarem os seus opressores e inverterem as narrativas de “terrorismo” e “democracia”. Ao procurar afirmar a sua igualdade substantiva contra aqueles que procuram apagá-los, a resistência persegue um ideal distintamente democrático contra o implacável terror do colonizador.

É por isso que milhões de pessoas em todo o mundo estão trabalhando em solidariedade ativa com o povo palestino: para enfrentar poder com poder. Juntos, estamos a jogando areia nas rodas da máquina de guerra genocida de Israel, estamos bloqueando bancos que financiam o genocídio, estamos nos organizando contra empresas de tecnologia que facilitam o genocídio, estamos interrompendo rotas comerciais que alimentam o genocídio, estamos marchando aos milhões contra o genocídio e estamos unindo a grande maioria das nações do planeta terra para afirmar a sua oposição ao genocídio e ao imperialismo.

Pra frente, pra frente… pra frente até a vitória.

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A Internacional Progressista se dirige ao Paquistão

No dia 8 de fevereiro de 2024, o Paquistão realiza as suas eleições gerais—as primeiras desde que o primeiro-ministro Imran Khan foi destituído do poder em 2022, e muito depois do prazo constitucionalmente estabelecido para a realização de eleições após a dissolução da Assembleia Nacional.

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Honduras celebra dois anos de progresso social

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Tribunais da Argentina derrubam decretos de Milei

Na terça-feira, os tribunais argentinos analisaram todo o capítulo envolvendo direitos trabalhistas do mega-decreto do presidente capitalista fundamentalista Javier Milei. O capítulo procurava privar os trabalhadores argentinos dos seus direitos fundamentais. Na quarta-feira, o Congresso começou a debater o decreto, que contém longos 664 artigos.

A decisão do tribunal de que o decreto de Milei é inconstitucional segue-se a uma mobilização histórica de trabalhadores, trabalhadoras e sindicatos argentinos que semana passada saíram em greve geral contra o decreto. 

O Fundo Monetário Internacional respondeu favoravelmente ao ataque de Milei aos padrões de vida—que já fez a inflação disparar—elogiando as suas políticas “ousadas” e liberando quase 5 bilhões de dólares (aprox. 25 bilhões de reais) em empréstimos.

The Camp Number 1, de Ala Albaba, cuja obra se centra na vida quotidiana nos campos de refugiados da Palestina. O autor chama a atenção para as contradições entre a natureza fixa da estrutura dos campos de refugiados e o seu ambiente urbano moderno e em constante mudança. Albaba explora diferentes questões sociopolíticas centrando-se na sua relação com o campo de refugiados e como este conseguiu preservar a sua identidade e forma política ao longo dos anos.

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Date
02.02.2024
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