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Newsletter da Internacional Progressista | No. 23 | Dignidade sim, divisão não

O MORENA se sobressaiu nas eleições do México após grandes ganhos para a classe trabalhadora, enquanto a campanha cheia de ódio do BJP perdeu a maioria no Lok Sabha da Índia.
Na 23ª Newsletter da Internacional Progressista de 2024, além de outras notícias do mundo, nós nos debruçamos sobre os resultados das eleições Mexicanas e Indianas.Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

Esta semana, dois grandes países de dois continentes distantes realizaram duas eleições históricas e os seus dois partidos no poder foram reeleitos. Mas é aí que terminam as semelhanças entre as eleições no México e na Índia.

O México assistiu a um resultado de maioria absoluta para o MORENA e a sua presidente eleita Claudia Sheinbaum, garantindo quase 36 milhões de votos e uma margem de 30% sobre a oposição: um resultado recorde na história da democracia mexicana. Sheinbaum será a primeira mulher presidente do México, assumindo as rédeas do fundador do seu partido, o presidente Andrés Manuel López Obrador (também conhecido pela sigla AMLO), que se aproxima do término do seu mandato único constitucional de seis anos.

Um triunfo semelhante para o BJP e o seu primeiro-ministro já no seu segundo mandato, Narendra Modi, era esperado na Índia. Após anos de manipulação eleitoral e captura do poder judiciário, o terceiro mandato de Modi no poder era considerado uma inevitabilidade. Mas em vez de consolidar a maioria que o BJP conquistou em 2019, o partido de Modi perdeu 63 assentos—e a sua maioria no Lok Sabha (o equivalente à câmara de deputados).

Juntas, estas eleições contam a história da busca duradoura pela dignidade: uma força eleitoral que pode ser suprimida, mas que não pode ser contida.

A vitória histórica do MORENA é fruto dessa luta. Durante seis anos, o governo de López Obrador introduziu o “Humanismo Mexicano” num sistema político que outrora foi dominado pela corrupção. Por el bien de todos, primero los pobres: “Para o bem de todos, primeiro dos pobres”.

Contrariando as previsões de um colapso iminente do país sob a liderança de esquerda de López Obrador, os padrões de vida do país dispararam: milhões de pessoas saíram da pobreza, os salários reais aumentaram 35%, os salários mínimos triplicaram, o tempo de férias duplicou e a terceirização exploradora entrou na mira da repressão governamental. As pensões do Estado duplicaram e tornaram-se universais para os maiores de 65 anos.

Pela primeira vez em décadas, o povo do México viu-se no seu próprio governo. López Obrador terminou seu mandato com um índice de aprovação recorde de 80%. De acordo com a Gallup, a confiança do público no governo do México duplicou durante os seis anos do presidente no poder: de apenas 29% para mais de 60%.

Os dez anos de Modi à frente da Índia não produziram avanços equivalentes para as pessoas pobres e para a classe trabalhadora do seu país. Em vez de basear a sua campanha nos avanços conquistados pelas pessoas comuns, Modi enfatizou a retórica divisionista e islamofóbica como parte de uma estratégia de dividir para governar.

Os relatórios sugerem que o BJP ameaçou candidatos de partidos da oposição a retirarem-se da corrida eleitoral em pelo menos três territórios. Evidências de supressão de votos, especialmente em comunidades muçulmanas, foram relatadas em vários territórios em todo o país. Os líderes do BJP mal esconderam seus dog-whistles, chamando muçulmanos indianos de “infiltrados” envolvidos na “jihad” em discursos públicos a milhares de eleitores e eleitoras.

O caminho estava traçado para uma ditadura travestida de democracia. Numa entrevista viral semanas antes dos resultados das eleições, Modi declarou que “ele não nasceu biologicamente, mas foi enviado por Deus”. Seu partido estabeleceria um plano para os próximos “mil anos”.

Esta retórica revelou-se insuficiente para sustentar milhões de eleitores indianos que enfrentaram uma inflação de dois dígitos nos alimentos básicos—roti (cereais), dal (leguminosas) e sabzi (vegetais)—no último ano.

Agora, a Quarta Transformação do México—assim chamada por causa das três transformações anteriores: a Guerra da Independência, a Guerra da Reforma e a Revolução—avança. Entretanto, a inclinação da Índia para o fascismo supremacista hindu pisa momentaneamente no freio. O sucesso ou o fracasso de cada projeto será definido pelo poder das forças progressistas em sintonia com a busca popular pela dignidade. Nós nos alinhamos com essas forças.

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A Internacional Progressista inaugura sua escola de verão

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Como devemos entender essas transformações épicas? O que realmente está acontecendo na economia global? E o que isso significa para pessoas como você e eu?

Todos os dias recebemos e-mails de assinantes buscando respostas para essas perguntas. Percorrer nossos feeds e folhear os jornais não é suficiente, dizem-nos. Precisamos de um lugar para as pessoas lerem, ouvirem e trocarem perspectivas.

É por isso que estamos inaugurando a Escola de Verão da Internacional Progressista—sobre o passado, o presente e o futuro do capitalismo global—e te convidamos a se inscrever aqui.

Delegação da IP na China

A Internacional Progressista enviou uma delegação de uma semana a Xangai e Pequim para participar de intercâmbios acadêmicos e políticos e lançar as bases para um envolvimento mais estreito entre a República Popular da China e os membros e membras da Internacional Progressista. A delegação, que incluía Varsha Gandikota-Nellutla e Pawel Wargan (do Secretariado da IP), manteve reuniões na Universidade Fudan, na Universidade Normal da China Oriental, na Academia Chinesa de Ciências Sociais e com o Departamento Internacional do Partido Comunista da China.

Arte da Semana: Siddhesh Gautam é uma artista multidisciplinar baseado em Delhi que frequentemente chama a atenção para o movimento anti-castas na Índia.

Savitrimai e Fátima (2023) retrata a educadora Savitribai Phule (nascida em 1831), uma pioneira do movimento feminista da Índia, ao lado de Fátima Sheikh, sua “aliada mais confiável” que é creditada como “a primeira professora muçulmana da Índia” por Nasreen Sayyed, uma liderança acadêmica em Sheikh.

A imagem, que se baseia na única fotografia das duas, faz parte de uma série de trabalhos intitulada “Mulheres no movimento anti-casta” de Gautam, que se centra em mulheres que não só “lutaram por uma sociedade justa em termos de castas, mas em gênero também.”

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Date
08.06.2024
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