Briefing

Newsletter da Internacional Progressista | No. 15 | As armas entram, a ajuda sai

Como os EUA e seus aliados cortam financiamentos e destroem a Palestina.
Na 15ª Newsletter da Internacional Progressista de 2024, além de outras notícias do mundo, nós analisamos a destruição continuada da Palestina, levada a cabo pelas potências do Ocidente, e as tentativas de responsabilizá-las que vem se acumulando. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.
Na 15ª Newsletter da Internacional Progressista de 2024, além de outras notícias do mundo, nós analisamos a destruição continuada da Palestina, levada a cabo pelas potências do Ocidente, e as tentativas de responsabilizá-las que vem se acumulando. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

Dois novos relatórios revelam a escala do apoio militar dos Estados Unidos e dos seus aliados a Israel antes e depois de 7 de Outubro de 2023 e de uma década de retirada de financiamento dos apoios humanitários à Palestina. Simplificando, os EUA e os seus aliados retiram fundos e destroem a Palestina com uma política de “entrada de armas e saída de ajuda”.

Na véspera de 7 de Outubro de 2023, os EUA deram a Israel 59 dólares em apoio militar por cada dólar que deram à Palestina em ajuda humanitária bilateral (aproximadamente 302 reais em auxílio militar cedido a Israel para cada 5 reais de ajuda humanitária dada à Palestina). Desde 7 de Outubro, os EUA entregaram a Israel mais de 23 bilhões de dólares em armas e retiraram financiamento à Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos (UNRWA), o maior fornecedor de ajuda e apoio ao povo palestino.

Os relatórios dos projetos “Quem está Armando Israel”—produzido conjuntamente pelo Institute for Journalism and Social Change em parceria com a Action on Armed Violence—e o “Ajuda Internacional para a Palestina”, produzido pelo Institute for Journalism and Social Change, revelam o papel dos EUA na longa história de violência e negação dos meios de vida à população palestina, especialmente aos que vivem na Faixa de Gaza.

O armamento de Israel pelos EUA é bem conhecido. Entre 2019 e 2023, os EUA foram responsáveis por cerca de 69% das importações de armas de Israel, com um acordo de 10 anos assinado em 2016 que fornece anualmente a Israel 3,8 bilhões de dólares em ajuda militar dos EUA. O que é bem menos conhecido é o fato de os EUA, ao longo de uma década, terem retirado financiamento da ajuda humanitária à população palestina—tanto sob administrações presidenciais republicanas quanto democratas.

Entre 2013 e 2022, os EUA reduziram os seus fluxos de ajuda bilateral para Gaza e para a Cisjordânia em mais de 90%. Os aliados dos EUA seguiram o exemplo: um corte de 74% na ajuda do Reino Unido e um corte de 30% do Canadá.

No todo, na década examinada, os fluxos anuais de ajuda para a Palestina provenientes de doadores oficiais sofreram uma redução de cerca de 15%. A Palestina é o único beneficiário de ajuda na Ásia Ocidental que viu os seus fluxos anuais de ajuda caírem. Teriam caído ainda mais se não fosse o aumento das contribuições de alguns países, mais notavelmente do Qatar, que reportou mais de 1,3 bilhões de dólares em ajuda à Cisjordânia e Gaza só entre 2019-2022.

Este programa dedicado de desfinanciamento por parte dos EUA e dos seus aliados surgiu num momento de grande necessidade, onde 80% da população de Gaza dependia da ajuda internacional, de acordo com a ONU. Antes do ataque pós-7 de Outubro, a maior parte da água de Gaza era “imprópria para beber” e “envenenava lentamente as pessoas”, segundo grupos de direitos humanos.

Desde 7 de Outubro, esta tendência de “entrar armas, sair ajuda” intensificou-se, apesar da escala colossal de necessidades em Gaza e da decisão do mais alto tribunal do mundo de que Israel poderia plausivelmente estar a cometer genocídio. Em resposta às alegações infundadas do governo israelense sobre os funcionários da UNRWA, nove dos maiores doadores da agência, representando mais de metade do financiamento total, incluindo os EUA e o Reino Unido, anunciaram que iriam suspender ou rever seus apoios financeiros.

O fluxo de equipamento militar e de apoio a Israel, por outro lado, aumentou. Desde 7 de Outubro, os acordos militares dos EUA ultrapassaram os 23 bilhões de dólares, tendo sido aprovadas mais de 100 vendas militares não reveladas a Israel desde então.

A Alemanha é hoje o segundo maior exportador de armas para Israel. Em 2023, a Alemanha licenciou 326,5 milhões de euros (aprox. 1.77 bilhões de reais) em munições a Israel, um aumento de dez vezes em relação ao ano anterior. Esta semana, a Alemanha foi levada perante o Tribunal Internacional de Justiça, acusada pela Nicarágua de “facilitar a prática do genocídio” contra a população palestina em Gaza. Os advogados da Nicarágua disseram ao mais alto tribunal do mundo que a Alemanha é “patética” por fornecer ajuda à população palestina e ao mesmo tempo fornecer armas a Israel.

Apesar do governo do Reino Unido afirmar que não fornece ajuda letal a Israel desde 7 de Outubro, empresas britânicas como a BAE Systems continuam a fornecer componentes militares para caças israelenses, incluindo o F-35. Postagens online do exército israelense mostram caças do tipo F-35 bombardeando alvos em Gaza.

Entre maio de 2015 e agosto de 2022, o governo do Reino Unido licenciou mais de £ 448 milhões (aprox. 2.86 bilhões de reais) em armas para Israel, incluindo aeronaves, mísseis e várias outras tecnologias militares letais. Na sequência de uma petição apresentada pela Al-Haq, uma organização palestina de direitos humanos, foi revelado que existem 28 licenças no Reino Unido e 28 outros pedidos pendentes de equipamento militar que poderiam ser utilizados pela força aérea israelita em Gaza. Não se sabe quem detém essas licenças.

No início de Abril de 2024, mais de 600 figuras jurídicas escreveram ao governo do Reino Unido apelando à suspensão das exportações de armas para Israel, à imposição de sanções contra aqueles que incitam a um possível genocídio e à restauração do financiamento à UNRWA para garantir que a ajuda humanitária chegasse a Gaza.

Em 9 de Abril de 2024, o Ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, declarou que o Reino Unido não suspenderia as armas para Israel depois de “analisar os últimos pareceres jurídicos”. Os funcionários públicos que supervisionam as exportações de armas para Israel estão considerando uma paralisação do serviço devido a preocupações sobre possíveis responsabilizações jurídicas.

Os fabricantes de armas que recebem essas licenças estão registrando lucros recorde, com os seus executivos lucrando através da venda de ações pessoais.

Por exemplo, a BAE Systems reportou lucros (sem descontar juros e impostos) de 2,7 bilhões de libras em 2023, sobre vendas de 25,3 bilhões de libras (aprox. 160 bilhões de reais). No início de 2024 assistiu-se a um aumento acentuado nos preços das ações das empresas que armam os militares israelenses. A Northrop Grumman e a Lockheed Martin, principais fornecedores da Força Aérea Israelense, viram aumentos significativos nos preços das suas ações, com as ações da Northrop Grumman subindo 11,43% e as da Lockheed Martin quase 9% desde 7 de outubro.

O projeto “Quem está armando Israel” identificou executivos de alguns dos principais fabricantes de armas do mundo que estão listados como vendedores de armas a Israel e que recentemente lucraram pessoalmente com vendas substanciais de ações. Os principais executivos da BAE Systems, General Dynamics, Rheinmetall e L3Harris Technologies receberam milhões a mais em vendas de ações devido aos aumentos nos preços das ações após 7 de outubro.

Enquanto estes lucros continuarem, o mesmo acontecerá com a destruição da Palestina e a expropriação do povo palestiniano. É por isso que ações contra a máquina de guerra de Israel e a sua cadeia de abastecimento global são tão vitais.

Cidadãos e cidadãs de todo o mundo exigem que os seus governos coloquem um ponto final nas vendas de armas para Israel. De acordo com sondagens recentes, 56% dos britânicos querem um embargo de armas, mas apenas 17% opõem-se. Nos EUA, os números são semelhantes, com 52% de apoio e apenas 27% de oposição.

Ativistas estão confrontando diretamente a máquina de guerra—e as suas ações vêm dando resultados. A Palestine Action já fechou instalações inteiras e interrompeu as atividades da Elbit Systems, a maior empresa de armas de Israel.

Ao desmantelar a máquina de guerra, podemos inverter e transformar a fórmula “entra armas, sai ajuda”. Podemos finalmente ter “sai ocupação, entra libertação”.

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Arte da Semana: Cibelle Cavalli Bastos, uma artista brasileira radicada em Berlim, cria obras de arte geradas por IA com mensagens escondidas que falam de censura, tanto nas redes sociais quanto em toda a Alemanha. Ao gerar imagens que são deliberadamente projetadas com texto de ilusão de IA incorporado, as palavras são capazes de contornar a identificação algorítmica.

A série Freedom Watermelon de Cibelle foi concebida como uma iniciativa de arte digital gerada por IA em apoio aos esforços humanitários em Gaza e para cobrir custos judiciais para aquelas pessoas presas em Berlim por protestarem contra as atrocidades cometidas contra a população palestina.

A arte de edição limitada de Cibelle para a Internacional Progressista apoia o Centro Europeu de Apoio Jurídico (ELSC), que defende e capacita defensores dos direitos palestinos em toda a Europa continental e no Reino Unido através de meios legais.

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Date
12.04.2024
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