O caso de extradição contra Julian Assange está entrando na reta final, com a sua última audiência num tribunal do Reino Unido prevista para o início de 2024. Depois disso, Assange poderá então ser levado para os EUA para enfrentar acusações previstas pela Lei de Espionagem (Espionage Act, no original em inglês).
As potenciais ramificações para o jornalismo que desafia o poder global e que busca a verdade não podem ser exageradas. A aplicação da Lei de Espionagem nos EUA estabelece um precedente assustador que repercute muito além do destino individual de Assange. O silenciamento de quem procura a verdade envia uma mensagem perigosa, assinalando um declínio na resiliência de uma imprensa livre contra as forças do autoritarismo.
Três membros do Tribunal de Belmarsh, que se reúne em Washington DC no sábado, 9 de dezembro—John Kiriakou (ex-oficial de inteligência da CIA), Yanis Varoufakis, (economista e político grego) e Lina Attalah (cofundadora e editora-chefe do Mada Masr)—explicam em um artigo publicado esta semana que o destino de Assange “poderia sufocar o farol de transparência que ele representa” e ter impacto muito além das fronteiras dos EUA.
Na análise desses três membros, o legado do Wikileaks “vai além de expor a má conduta governamental; ele rompe o véu de segredo que envolve os assuntos globais.” Com o bombardeamento de Gaza por Israel já tendo matado 63 jornalistas, “precisamos do jornalismo destemido do Wikileaks e de bravos denunciantes israelenses para descobrir como é que este número é tão incrivelmente elevado”, explica o Comitê para Proteção de Jornalistas—parceiro do Tribunal de Belmarsh.
Lina Attalah não poderá comparecer pessoalmente à sessão do Tribunal de Belmarsh na capital Washington, no sábado, no National Press Club, onde Assange exibiu “Assassinato Colateral” pela primeira vez ao público. A cobertura do Mada Masr sobre o ataque em curso em Gaza suscitou a ira do Estado egípcio—aliado dos EUA. Se os EUA podem prender aqueles que revelam casos de tortura e perseguir jornalistas que revelam verdades, porque é que os aliados autoritários dos EUA também não o podem?
A pressão vem aumentando sobre a administração Biden para libertar Julian Assange. Desde presidentes e primeiros-ministros até vencedores do Prêmio Nobel da Paz, a comunidade internacional clama contra a injustiça da acusação de Assange—e as suas implicações para a liberdade de imprensa em todo o mundo.
No sábado, 9 de dezembro, os principais jornalistas, especialistas em direito, e defensores e defensoras dos direitos humanos do mundo vão se reunir no National Press Club, na capital Washington, como testemunhas da repressão da administração Biden à liberdade de expressão e à Primeira Emenda.
Junte-se a eles. Junte-se a elas. Não é tarde demais para ficar do lado certo da história.
Registre-se agora para comparecer pessoalmente ao Tribunal ou para acompanhar o processo virtualmente.
Cruzando os Braços pela Palestina
Na quinta-feira, piquetes em massa bloquearam quatro fábricas de armas britânicas que forneciam armamentos a Israel. Numa unidade da BAE Systems em Glasgow, o trabalho foi interrompido e trabalhadores e trabalhadoras voltaram para as suas casas. As ações fazem parte de uma intensificação da campanha liderada por sindicalistas no Reino Unido para cortar os laços da cumplicidade britânica para com os crimes de guerra israelenses—atirando areia nas rodas da máquina de guerra de Israel.
Na segunda-feira, estradas e ferrovias no Canadá foram fechadas por ativistas, liderados pelo Movimento da Juventude Palestina—membro da Internacional Progressista. Manifestantes exigiram um cessar-fogo imediato e o fim do cerco a Gaza.
Conferência do La Via Campesina
Esta semana, o La Via Campesina, o movimento camponês internacional, realizou a sua 8ª Conferência Internacional em Bogotá, Colômbia.
Composto por 182 organizações de agricultores de 81 países, o La Via Campesina realiza suas Conferências Internacionais a cada quatro anos, mas a 8ª foi realizada somente seis anos após a 7ª Conferência—realizada em Bilbao, Espanha, em 2017—devido ao impacto da pandemia da COVID-19.
A 8ª Conferência, que marca o 30º aniversário do La Via Campesina, concentrou-se na reflexão sobre o seu progresso, partilhando as experiências de camponeses e camponesas de todo o mundo face às alterações climáticas, guerra e outras ameaças. A Conferência também delineou as atividades para os próximos quatro anos das organizações de agricultores afiliadas ao La Via Campesina.
Em particular, a Conferência centrou-se na necessidade de reforçar a solidariedade internacional pelos direitos de camponeses e camponesas e pela soberania alimentar.
COP28
A COP28 está em andamento nos Emirados Árabes Unidos, e ela vai ‘muito bem, obrigado’ para os lobistas dos combustíveis fósseis—cujo número quadruplicou na COP deste ano, face ao recorde de mais de 600 no ano passado. No entanto, ela é terrível para o planeta e para as pessoas que nele vivem.
O Fundo de Perdas e Danos (Loss and Damage Fund, no original em inglês), anunciado com grande alarde no ano passado, tem atualmente promessas de centenas de milhões de dólares por ano, no entanto são necessários outra ordem de grandeza: centenas de bilhões de dólares ao ano. Da mesma forma, os países do Norte não estão cumprindo os seus compromissos com relação ao Financiamento de Adaptação (Adaptation Finance, no original em inglês). Em Paris, em 2015, as nações do mundo concordaram com um fundo de 100 bilhões de dólares por ano para a adaptação do Sul Global. Quase uma década depois, esse compromisso simplesmente não foi cumprido.
A Internacional Progressista está no terreno para trazer relatórios dos Emirados Árabes Unidos e da COP28, onde o espaço para dissidência foi drasticamente reduzido em relação aos anos anteriores. À medida que a Conferência avança para a conclusão na próxima semana, fique atento a mais atualizações, entrevistas e análises.
Arte da Semana: Arte feita para a sessão de dezembro de 2023 do Tribunal de Belmarsh. Autor: Gabriel Silveira (Diretor de Criação da Internacional Progressista).