Briefing

Newsletter da Internacional Progressista | No. 38 | Agora como tragédia

A brutal escalada do regime israelense contra o Líbano.
Na 38ª Newsletter da Internacional Progressista de 2024, além de outras notícias do mundo, nós olhamos para o Líbano e para a espiral sem lógica do “não aumento pelo aumento” colocada em marcha por Israel. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.
      1. 2024.

Mais uma vez, as forças militares israelenses se reúnem no Norte, preparando-se para invadir o Líbano. Na quarta-feira, Herzi Halevi, o chefe militar de Israel, expôs o plano para suas tropas de maneira clara: “Suas botas militares”, disse, “entrarão em território inimigo”.

E no sábado, aviões de guerra israelenses assassinaram Sayyed Hassan Nasrallah, líder do movimento de resistência libanês Hezbollah, em um ataque implacável que destruiu um bloco inteiro de prédios residenciais em Beirute com bombas "destruidoras de bunkers" dos EUA, matando centenas no processo.

A intensificação do ataque de Israel ao Líbano—mais de 8.000 ataques desde 7 de outubro, matando bem mais que 1.000 pessoas—trará ainda mais deslocamentos, destruição e mortes. Mais lágrimas, trauma e terror para o povo do Líbano.

Se o exército israelense fizer o que está se preparando para fazer—uma invasão terrestre em grande escala no Líbano para acompanhar a atual campanha de bombardeios—será a quarta invasão desse tipo em menos de 50 anos.

A história está se repetindo, mas não há farsa no novo ataque de Israel ao sul do Líbano. Esta é a história se repetindo como uma tragédia sem fim, e ela continuará até que essas forças belicosas sejam verificadas, a máquina de guerra seja desmantelada e os laços de cumplicidade com o projeto colonial sejam completamente cortados.

A 9.000 quilômetros de distância, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez um discurso na Assembleia Geral da ONU. A sala estava meio vazia, mas os aplausos da sua claque ecoaram pelo salão enquanto ele apresentava Israel como travado em uma luta maniqueísta de sete frentes contra o Irã, alertando que não há "nenhum lugar" no Irã que Israel não possa atacar. Foi à margem da reunião da ONU que Netanyahu ordenou o assassinato de Nasrallah.

De volta ao Líbano, apenas uma das frentes de Netanyahu, a tragédia resultante é muito familiar: instruções israelenses para sair de casa ou morrer, como as que a população palestina recebe desde 1948. Deslocamentos repetidos—um terço da população do Líbano são refugiados, principalmente da Síria e da Palestina. A desumanização do povo libanês na TV israelense nas palavras de ministros do governo pedindo "aniquilação". A criação da ficção do "ministério da saúde administrado pelo Hezbollah". A negação da soberania e da humanidade plena.

“Fizemos em Beirute exatamente o que [os israelenses] estão fazendo em Gaza”, lembrou um ex-soldado israelense no início deste ano. “Cortamos a água, a eletricidade, tudo. Mas não havia mídias sociais, então as pessoas não sabiam muito.” Ele estava se referindo à invasão do Líbano por Israel em 6 de junho de 1982.

Israel cometeu e planejou grandes crimes, como o massacre de Sabra e Shatila que ocorreu há 42 anos (também em Setembro), porque pode. Esses ataques são realizados com o consentimento total dos apoiadores e apoiadoras de Israel em Washington. Em uma declaração urgente publicada logo após o assassinato de Nasrallah, Joe Biden defendeu o ataque como "uma medida de justiça", reafirmando que os EUA estão preparados para apoiar sua ponta-de-lança imperial enquanto sua fúria se espalha cada vez mais além das fronteiras da Palestina.

Em Sabra e Shatila, os militares israelenses incendiaram e cercaram os campos para que seu representante subordinado, a milícia falangista libanesa, pudesse massacrar indefesos refugiados e refugiadas da Palestina. Hoje, os EUA armam e apoiam seu representante subordinado, às Forças de Ocupação Israelenses, para executar sua barbárie à distância.

A violência chocante do regime israelense lembra os últimos suspiros do apartheid na África do Sul, que intensificou sua guerra contra Angola, Moçambique e Namíbia à medida que se desintegrava—um período que também viu o surgimento de poderosos movimentos de solidariedade internacional com os estados do Sul da África.

A resistência a esse sistema não é apenas necessária, é inevitável. Esta semana marca o 24º aniversário do início da Segunda Intifada, na qual palestinos e palestinas se levantaram no contexto do fracasso abjeto da ordem de Oslo em garantir soberania e dignidade, ainda que parcial, para a população palestina. Hoje, vemos muitas faíscas de uma revolta mais ampla contra a máquina de guerra que facilita e encoraja o assassinato em massa cometido pelo regime israelense.

Em Nasrallah, Israel pode ter matado um líder, mas não matou a resistência. O assassinato de um líder não pode matar as ideias que dão vida ao seu movimento; o massacre gratuito de civis não pode deter o processo de libertação.

Nossa tarefa é ajudar essas faíscas de resistência a tocar a palha seca—na linha de frente, no núcleo imperial e em todos os lugares. Para atiçar as chamas delicadas para que elas se tornem mais fortes antes de finalmente se transformarem em um grande fogo que consuma a violência imperial que marca nosso mundo.

Últimas do Movimento

Enchentes atingem o campo de refugiados e refugiadas Sahrawi

A inundação no campo de refugiados e refugiadas de Dakhla, no deserto do Saara, na Argélia—causada por chuvas sazonais intensas—deslocou 520 famílias. Um quarto delas perdeu suas casas e precisará de reconstrução completa. 

O Crescente Vermelho do Saara Ocidental emitiu um apelo por assistência urgente. Se você é membro de uma organização que pode apoiar os esforços de reconstrução, escreva para Sidahmed Mohamed Fadel Bujers.

Programa de Ação para a Construção de uma Nova Ordem Econômica Mundial 

Esta semana publicamos o Programa de Ação para a Construção de uma Nova Ordem Econômica Internacional: um manual para um Sul insurgente conquistar seu desenvolvimento soberano e sustentável no século XXI.

O Programa de Ação original, adotado pela Assembleia Geral da ONU há cinco décadas atrás, forneceu um conjunto de prescrições para trazer maior equilíbrio à economia global e ajudar os países mais pobres do Sul—“seriamente afetados por crises econômicas e calamidades naturais”—a se desenvolverem ao lado de seus vizinhos ricos do Norte.

Nossa motivação hoje é ainda mais urgente. “As velhas crises da dívida, da dependência e do subdesenvolvimento”, diz o prefácio do Programa, “combinaram-se com uma crise climática acelerada que ameaça não apenas as perspectivas de desenvolvimento do Sul, mas também, no caso de muitos pequenos estados insulares, sua própria existência.”

Nos últimos dois anos, a Internacional Progressista convocou acadêmicos, acadêmicas, diplomatas, formuladores e formuladoras de políticas públicas para desenvolver um plano para lidar com essa policrise. Juntos, mais de 300 delegados e delegadas de mais de 60 países ao redor do mundo—conhecidos coletivamente como o “Grupo Havana”, para o Congresso anual da NOEI convocado para a capital cubana—contribuíram para o desenvolvimento dos objetivos e medidas que compõem o Programa de Ação que agora publicamos.

Leia, faça o download e compartilhe nosso Programa de Ação

Organizações pró-Palestina nos EUA estão sob ameaça

Esta semana, o representante dos EUA e presidente do Comitê de Meios e Recursos, Jason Smith, escreveu ao Inland Revenue Service (a Receita Federal Americana) para revogar o status de isenção fiscal de 15 ONGs, incluindo a Justice in Palestine Educational Foundation, American Muslims for Palestine, Students for Justice in Palestine, Alliance for Justice, Islamic Relief USA, Jewish Voice for Peace, The People’s Forum, Tides Foundation, Adalah Justice Project, Arab Resource and Organizing Center, United Hands Relief Inc., WESPAC, Within Our Lifetime, U.S. Palestinian Community Network e o Palestinian Youth Movement, um membro da Internacional Progressista.

Tailândia celebra a igualdade de matrimônio

A Tailândia se tornou o primeiro país do Sudeste Asiático a reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Este passo à frente vem após anos de resolutas campanhas e prolongadas batalhas judiciais levadas a cabo pela comunidade LGBT do país pela igualdade no casamento. 

Para celebrar este marco e encontrar forças progressistas no país, a Internacional Progressista enviou uma delegação com a Co-Coordenadora Geral (Varsha Gandikota-Nellutla) e com um membro do Conselho (Walden Bello). A Internacional Progressista ouvirá depoimentos de ativistas e legisladores que lutaram contra as forças reacionárias por um planeta habitável, com justiça e igualdade.

A Amazon é uma ‘ameaça existencial’ para a democracia

Um novo relatório da Confederação Sindical Internacional (ITUC) rotulou a Amazon como uma "ameaça existencial à democracia responsiva". O relatório alega que a gigante corporativa se tornou "notória" por sua destruição de sindicatos, baixos salários, sonegação fiscal, danos climáticos e lobby com governos. É hora de #MakeAmazonPay

Conheça o Fórum de Madri

Na primeira reportagem do nosso consórcio de pesquisa, discutimos a coordenação global de forças de extrema direita por meio do Fórum de Madri, plataformas de políticas como o Projeto 2025 e o comércio de armas da Índia com Israel. Leia a reportagem aqui.

Arte da Semana: Walid Raad (1967, Chbanieh, Líbano) trabalha com filmes, fotografia, instalações e performances públicas que, em parte, narram sua relação com a história contemporânea do Líbano, com particular ênfase na guerra.

Raad frequentemente cria trabalhos atribuídos a outras pessoas. Neste caso, o trabalho em destaque é de 10 fotografias de páginas de diário supostamente de seu pai: Ghanem Mansour Raad. As fotografias foram doadas ao Atlas Group, um projeto que documenta as guerras libanesas de 1975 a 1990.

Na declaração que acompanha a doação, Raad observa: “Durante os anos da guerra, meu pai manteve um diário no qual detalhava a queda livre da libra libanesa, o preço dos materiais de construção e os tipos de bombas que caíam perto de sua casa”.

Available in
EnglishSpanishPortuguese (Brazil)French
Translator
Cristhiano Duarte Silva
Date
30.09.2024
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