Environment

Pessoas agricultoras de Multan enfrentam os impactos devastadores do calor extremo em um Punjab cada vez mais aquecido.

Em Multan, o calor intenso e outros efeitos da crise climática estão prejudicando a saúde e os meios de subsistência das pessoas agricultoras, resultando em colheitas danificadas, doenças relacionadas ao calor e outros efeitos adversos.
A mudança climática tem impactado drasticamente o Punjab paquistanês, com calor extremo, inundações, e padrões climáticos instáveis que colocam em risco a vida, a saúde e a agricultura da região. As pessoas agricultoras enfrentam sérios problemas de escassez de água e perdas de safra, devido ao acesso precário da região a serviços de saúde adequados e a assistência emergencial em situações de desastres.

Allah Wasaai, ume fazendeire de Rangpur, na província paquistanesa de Punjab, vivenciou pessoalmente os perigos das mudanças climáticas. Em 2022, elu e sue família foram obrigades a abandonar a própria casa, localizada perto do rio Chenab, na cidade de Multan, após as enchentes catastróficas, que destruíram tudo o que elus possuíam. Agora elus se mudaram para Muzaffargarh, e quando eu conversei com elus em julho, estavam enfrentando um calor extremo, um contraste abrupto com as chuvas de monções que costumam esperar nesta época do ano. 

'Os padrões climáticos mudaram drasticamente', disse Wasaai. 'Ou enfrentamos chuvas fortes que inundam nosses casas, ou sofremos com a falta de chuva, impactando nossa vida e trabalho. Não temos uma vida normal.'

O aquecimento global antropogênico tem tornado as ondas de calor ainda mais quentes, mais frequentes e duradouras, além de causar desastres naturais e mudanças drásticas nos padrões climáticos. Embora o Paquistão produza menos que um por cento das emissões globais de gazes de efeito estufa, está entre os países mais vulneráveis às mudanças climáticas, de acordo com o Global Climate Risk Index (Índice de Risco Climático) de 2021. 

Um relatório do Asian Development Bank (Banco Asiático de Desenvolvimento) mostra que, no Paquistão, as temperaturas devem aumentar em uma média de 3°C a 5°C até o final do século, podendo chegar a 4°C a 6°C caso as emissões globais de carbono continuem aumentando. Espera-se também que o país enfrente uma maior variabilidade dos fluxos fluviais, devido a precipitação irregular e o aceleramento do derretimento das geleiras. 

Nos últimos anos, o Punjab paquistanês, foi severamente impactado pelos desastres relacionados ao clima. A cidade de Multan, em particular, conhecida como um dos lugares mais quentes do mundo, enfrentou ondas de calor extraordinárias e chuvas irregulares. O verão de 2022 trouxe um calor extremo em Punjab, com temperaturas acima de 45°C em inúmeros distritos, colocando em risco a vida de milhões de pessoas. Houve um aumento de doenças relacionadas ao calor, problemas respiratórios e doenças transmitidas pela água, enquanto a agricultura, a pecuária e os pequenos negócios foram duramente afetados.  

Em seguida, chuvas de monções excepcionalmente intensas causaram enchentes severas, destruindo a infraestrutura e a agricultura, além de impactar milhões de vidas e meios de subsistência. 

Globalmente, 2023 foi o ano mais quente da história, e as temperaturas continuaram batendo recordes em 2024. O Punjab não teve trégua, especialmente devido a uma seca severa em 2023, que reduziu tanto a produção agrícola quanto a disponibilidade de água. No Paquistão, esses acontecimentos intensificaram a pressão sobre os gastos públicos, que já estão excessivamente sobrecarregados. As autoridades estão enfrentando um aumento significativo nos pedidos para substituir a infraestrutura danificada e fornecer subsídios e ajuda. 

A agricultura em Punjab é especialmente vulnerável ao calor intenso, e as pessoas agricultoras locais estão enfrentando dificuldades para lidar com as altas temperaturas e a escassez de água. Isso causa sérias implicações para a segurança alimentar e a economia, já que agricultura emprega cerca de metade da população do Paquistão e representa quase um quarto do Produto Interno Bruto. 

Para agravar ainda mais a situação, 'todas as estações estão perturbadas', observou Assad Imran, diretore de agricultura sustentável e programas alimentares do World Wide Fund for Nature Pakistan (WWF-Pakistan). 'Estamos passando do inverno para o verão, sem um aumento gradual da temperatura’, explicou Imran. 'Devido a esses padrões desregulados, às vezes o momento ideal para as plantações, que costumava ocorrer em junho e julho, está agora mudando para abril e maio. Isso também está alterando o calendário agrícola.'

O calor extremo também está aumentando a evaporação da água, o que aumenta o estresse sobre as fontes de água já limitadas e as infraestruturas de irrigação da região. 'As pessoas agricultoras não sabem o que está acontecendo', disse Imran. 'O conhecimento tradicional delus já não é suficiente para lidar com esses novos desafios.'

'A mudança climática está desproporcionalmente impactando as populações mais vulneráveis do Paquistão, desde ondas de calor escaldantes até inundações devastadoras.' disse o Mahar Abdul Rehman, oficial do Provincial Disaster Management Authority (PDMA) - Autoridade Provincial de Gestão de Desastres e coordenadore de gestão de desastres da divisão de Multan. Isso significa ês pobres, e especialmente mulheres, crianças e ês idosos. Rehman destacou a importância das medidas de mitigação e adaptação em Multan para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. 'Procuramos agir de forma proativa, nos preparando para emergências inesperadas e colaborando com departamentos relevantes, como os de segurança pública, serviços de resgate, agricultura e irrigação, para garantir uma gestão eficiente de desastres.'

O departamento da agricultura desempenha um papel essencial no apoio as pessoas agricultoras para que se adaptem às mudanças climáticas. As autoridades têm desenvolvido uma série de esforços para combater os impactos das alterações climáticas na Agricultura. 

Isso inclui fornecer orientações sobre práticas agrícolas resilientes ao clima, horários de irrigação adequados para reduzir o desperdício de água, uso de inseticidas botânicos para um manejo sustentável de pragas, padrões de cultivo diversificado e aplicação equilibrada de fertilizantes diante de condições climáticas extremas. 'O principal problema é que as pessoas da comunidade local geralmente se apegam às práticas tradicionais, o que torna difícil de convencê-las a adotar novos métodos.' disse Rehman. 'Estamos trabalhando para melhorar isso por meio de coordenação mútua, orientando as pessoas sobre proteção das culturas, tempo de irrigação e gerenciamento de água, para ajudá-las a superar esses obstáculos.'

Fatima Faraz, jovem ativiste climátique que vive em Peshawar, na província de Khyber Pakhtunkhwah, no norte do Paquistão, destacou o impacto das ondas de calor no setor agrícola do país e as consequências de longo alcance para a segurança alimentar em Punjab.   'À medida que a população aumenta, a falta de alimentos pode levar à desnutrição e doenças, especialmente entre as crianças.' Faraz explicou que os fenômenos climáticos extremos, não só afetam a produtividade das culturas, mas também comprometem sua qualidade.

'Existem várias iniciativas introduzidas pelo governo do Paquistão para promover métodos mais saudáveis e seguros para a agricultura.' disse Faraz. 'No entanto, elus não são específicos da área. Elus precisam ser adaptadas a locais específicos.' Por exemplo, ela acrescentou: 'as soluções para as pessoas agricultoras de Multan devem abordar suas necessidades e desafios exclusivos.'

Atualmente, ondas de calor extremas afetam a região com uma frequência alarmante, colocando milhões de pessoas em risco de doenças relacionadas ao calor, inclusive fadiga térmica, infecções de pele e insolação. O Punjab abriga mais da metade da população do Paquistão, com uma população aproximada de 128 milhões de pessoas. Especialistas em dermatologia emitiram alertas, já que as ondas de calor extremas intensificam as doenças relacionadas à pele em todo Paquistão. A população mais pobre e vulnerável enfrenta o maior impacto do problema, com muitas pessoas sofrendo de problemas de pele e não tem acesso ao tratamento médico adequado.

'Temos o mínimo de eletricidade, e o calor intenso provocou erupções cutâneas na nossa pele.', disse Shameem, 38 anos, mãe de nove filhos em Multan. 'Mas não temos condições de ir a hospitais particulares, e as unidades de saúde pública não nos atendem de forma adequada, o que leva a infecções.' Shemeem e sue família têm enfrentado doenças de pele devido ao calor intenso e à alta umidade. A piora da qualidade da água e a insegurança alimentar também trazem diversas consequências indiretas para saúde. As temperaturas elevadas e o alto teor de umidade podem expandir o ambiente propício ao desenvolvimento de mosquitos transmissores de malária e dengue. 

O estresse térmico é resultado de muitos fatores como, alta umidade, desidratação e falta de condicionamento físico. E isso causa uma variedade de danos que é difícil de projetar os efeitos a longo prazo com precisão. Diante de temperaturas mais intensas, o corpo humano precisa trabalhar mais para manter a temperatura interna saudável. 

Isso sobrecarrega o sistema cardiovascular e aumenta o risco de diversos efeitos negativos à saúde, que, em casos extremos, podem levar à insuficiência cardíaca e renal. 

 É difícil para especialistas determinarem como as mudanças climáticas e o aumento das temperaturas afetarão a saúde e o bem-estar das pessoas em uma escala regional mais ampla, especialmente no Punjab, onde milhares de pessoas já estão sofrendo, mais os dados ainda são escassos. Como ocorre com muitas questões climáticas, os danos e os riscos são particularmente graves em lugares como Multan, que são os menos capazes de reagir. As pessoas prestadoras de serviços de saúde da região estão cada vez mais preocupadas com os efeitos sobre ês pacientes, pois o calor e outros desafios estão se tornando comuns, colocando em dúvida a capacidade dos hospitais de continuar oferecendo atendimento durante eventos climáticos extremos. 

Shameem e algumas pessoas da sue família foram feridos em um incidente relacionado ao trabalho em julho, e os ferimentos ainda não foram tratados. 'Nós fomos ao hospital público, e elus nos deram o antiséptico iodopovidona, e nos orientaram a manter os cortes abertos para cicatrizar.' elu falou. 'No entanto, devido ao calor extremo e à umidade atual, não conseguimos nos recuperar completamente.'

De acordo com Rehman, a PDMA vem tomando medidas para reduzir os efeitos insidiosos das ondas de calor nas comunidades locais. Para oferecer alívio, a agência instalou acampamentos e estações de resfriamento em espaços públicos, proporcionando uma pausa do calor intenso. Estão sendo construídas alas de emergências separadas para lidar com os casos relacionados ao calor e garantir que as pessoas afetadas possam receber rapidamente um tratamento adequado.

Em Multan, o calor intenso causa regularmente exaustão, insolação, erupções cutâneas, fadiga e cãibras. As pessoas que trabalham no campo geralmente correm um risco maior. Jamaima Afridi

Além dessas medidas, disse Rehman, é essencial a conscientização para combater o impacto das ondas de calor em Multan. Sue equipe utiliza várias estratégias para divulgar informações, como campanhas nas mídias sociais, distribuição de panfletos em empresas e espaços públicos, e colaboração com grupes comunitáries em vilarejos. Rehman acrescentou, que em áreas rurais, onde o acesso à informação é limitado, uma das abordagens mais eficazes é colaborar com as mesquitas locais para dar aês moradores avisos antecipados sobre ondas de calor, enchentes ou qualquer outra mudança climática drástica. 

Mas, apesar das tentativas do governo, muitas pessoas têm recebido pouca ou nenhuma assistência, mesmo depois de sofrerem perdas terríveis. 'O governo não fez nada para nos ajudar, nem esperávamos que o fizesse, já que ele só tira benefícios de nós.', disse Allah Ditti, 45 anos, uma pessoa pastora de gados em Multan. Os animais de Ditti, sue principal fonte de renda, também sofreram com o calor excessivo. Condições climáticas adversas causaram a perda de mais de 50 de sues animais, elu disse, cada um avaliado aproximadamente 50 mil rúpias paquistanesas, cerca de US$ 180.

'Há um ônus financeiro constante, e agora o clima está se tornando mais severo a cada dia.' disse Ditti. 'Não sabemos mais como lidar com essa situação'. Como o clima extremo continua a afetar Multan e outras regiões do Paquistão, pessoas como Ditti se perguntam quando poderão ter um dia agradável em suas vidas. 

É fundamental entender como proteger melhor as pessoas mais vulneráveis em Punjab. Embora organizações como WWF-Paquistão possam incentivar os esforços de adaptação e mitigação do clima, pessoas funcionárias como Imram reconhece que o governo e outres partes interessadas desempenham um papel importante na implementação de políticas e estruturas eficazes. Atualmente, o objetivo principal é entender melhor quantas pessoas, especialmente que trabalham nas áreas rurais, serão afetadas por doenças relacionada ao calor e qual será a frequência e a gravidade de sue sofrimento.

Nos últimos anos, as ondas de calor têm sido um bom indicador dos riscos que a região enfrentará nas próximas décadas. Se os níveis atuais de aquecimento global não forem reduzidos, as ondas de calor extremas que muitas pessoas estão vivenciando em Punjab, se tornarão simplesmente a nova norma. 

Available in
EnglishFrenchArabicGermanItalian (Standard)Portuguese (Brazil)Spanish
Author
Jamaima Afridi
Translators
Max Victoria Alonso, Maria Elisa Garcia Leoni and ProZ Pro Bono
Date
21.11.2024
Source
Himal SouthasianOriginal article🔗
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