Briefing

Newsletter da Internacional Progressista | No. 35  | A Batalha Pela Ordem Internacional

Em seu 80º aniversário, a ONU é um campo de batalha sobre o futuro das instituições internacionais.
Na 35ª Newsletter da Internacional Progressista de 2025, além de outras notícias do mundo, nos debruçamos sobre o papel da Organização das Nações Unidas 80 anos após a sua fundação, e também sobre os esforços de iniciativas como o Grupo de Haia, que buscam recuperar o direito internacional contra os esforços do Ocidente em enterrá-lo. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

Em outubro de 1945, as nações do mundo adotaram a Carta das Nações Unidas — um documento com consenso global sem precedentes e aspirações ousadas de construir um novo mundo a partir das cinzas de duas guerras brutais. Meses depois, foi realizada a primeira Assembleia Geral da ONU.

Desde o seu nascimento, a instituição espelha as contradições e desigualdades de um sistema mundial moldado no crisol do conflito colonial. Apenas 51 nações estiveram presentes na primeira Assembleia Geral. Quando se reuniram no Methodist Central Hall, em Londres, cerca de 750 milhões de pessoas — ou um terço da população mundial — permaneciam sob o domínio colonial.

A própria arquitetura da ONU, que confere aos EUA e seus aliados poder significativo por meio do Conselho de Segurança, serviria por muito tempo a uma agenda de usurpação imperial. Foi com a aprovação do Conselho de Segurança da ONU que os EUA lançaram seu ataque genocida à Coreia, apenas cinco anos após a Carta da ONU expressar a determinação mundial de "salvar as gerações futuras do flagelo da guerra".

Ainda assim, as décadas seguintes testemunharam mudanças sísmicas no sistema internacional. À medida que os movimentos de libertação nacional—e as revoluções socialistas—libertavam povos do colonialismo e do imperialismo em todo o Sul Global, eles adentravam o sistema internacional determinados a construir um mundo livre da dominação. Eles reuniram-se em Bandung, Belgrado e Havana para articular uma visão de um mundo de cooperação pacífica e desenvolvimento soberano. E, nos corredores da ONU, empreenderam esforços históricos para reconfigurar o direito internacional—e as instituições destinadas a defendê-lo—à imagem  e semelhança dos oprimidos do mundo.

Foi por meio dessa intersecção de lutas que as nações do Terceiro Mundo conquistaram o direito à luta armada contra a ocupação colonial (Resolução 37/43), as sanções contra o sistema de apartheid da África do Sul (Resolução 1761) e a Declaração sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional (Resolução 3201).

Cada iniciativa foi, em maior ou menor grau, frustrada ou contida por potências imperialistas. E por trás desses episódios está uma realidade crua: a ONU meramente reflete as contradições do sistema mundial e o equilíbrio de poder entre as nações que o compõem. Hoje, ao se reunir para sua 80ª Assembleia Geral, essas contradições atingiram um novo e agudo nível.

De um lado, há um esforço renovado dos Estados do Sul Global para alterar a rota do sistema internacional em direção aos interesses da maioria global. Um exemplo fundamental é o Grupo de Haia, um bloco global de Estados comprometidos com "medidas jurídicas e diplomáticas coordenadas" em defesa do direito internacional e da solidariedade com o povo da Palestina. O Grupo de Haia chega às Nações Unidas com uma agenda ampliada para deliberar sobre uma resposta conjunta ao genocídio e apresentar políticas nacionais anti-Israel à Assembleia Geral.

As intervenções do Grupo de Haia em Nova York dão continuidade à sua recente Conferência de Emergência para a Palestina, realizada em Bogotá nos dias 15 e 16 de julho, que reuniu representantes de 31 países da América Latina, África, Ásia, Europa e Oriente Médio, marcando o esforço diplomático mais coordenado até o momento por uma coalizão de Estados que se opõem ao ataque genocida de Israel em Gaza. Agora, esses Estados estão se reunindo para levar essa proposta adiante—com o objetivo de trazer novos membros a bordo e, ao mesmo tempo, aprofundar os compromissos assumidos no início do ano.

Do outro lado dessa luta histórica, há um esforço renovado dos EUA e seus aliados para desmantelar o sistema internacional consensual em favor de uma "ordem internacional baseada em regras não codificadas e indefinidas"—uma estrutura arbitrária de ilegalidade imperial e impunidade. Isso se reflete na posse de Annalena Baerbock da presidência da Assembleia Geral da ONU, o que ridiculariza a instituição. Como ex-ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Baerbock esteve entre os maiores defensores da OTAN na Europa e do genocídio do povo palestino.

E isso se reflete na ineficácia do sistema da ONU. O veto dos EUA no Conselho de Segurança da Organização—exercido mais de quarenta vezes  a fim de proteger a ocupação israelense da Palestina desde 1972—obstrui qualquer perspectiva significativa de alívio para o povo palestino. Some a isso o fato de que a Assembleia Geral da ONU não tem poder significativo para fazer cumprir as medidas que propõe. Apesar de ocasionais palavras de condenação de líderes da ONU, o genocídio continua inabalável—nem mesmo os funcionários e funcionárias da ONU escaparam do ataque.

É por isso que iniciativas como o Grupo de Haia são tão importantes. Elas demonstram que os direitos conquistados—muitas vezes à força—para os povos oprimidos do mundo dentro do sistema internacional não estão mortos e enterrados. Em vez disso, permanecem um terreno vivo de luta. Esses direitos refletem o equilíbrio de poder dentro das instituições internacionais, e esse equilíbrio está agora se deteriorando. O sucesso dessa luta dependerá da capacidade e determinação das forças progressistas ao redor do mundo para levar a longa luta pela libertação a uma nova era.

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Programa de Bolsa de Estudos para o Jornalismo Feminista

A parceira Jamhoor, da Wire, está em parceria com outras publicações de mídia para oferecer um programa de bolsas de seis meses, projetado para jornalistas em início e meio de carreira do Sul Global. A bolsa apoia jornalistas comprometidos com valores feministas e de justiça social, oferecendo recursos, mentoria e visibilidade para fortalecer reportagens que desafiam o fascismo, os fundamentalismos e os movimentos anti-gênero. Você pode ler mais e se inscrever aqui.

Grã-Bretanha Roubada

Um novo relatório da Commonwealth, parceira da Agência da IP, revela a escala devastadora da privatização britânica desde a década de 1980.  O documento mostra que £200 bilhões (aprox. 1,4 trilhões de reais) foram pagos a acionistas de setores privatizados, como energia, água e transporte, custando às famílias £250 (aprox. 1800 reais) por ano desde 2010.

Essa privatização levou a investimentos insuficientes, aumento de contas e deterioração dos serviços, com entidades estrangeiras e privadas agora detendo esses itens essenciais. Você pode assistir a um breve vídeo sobre o relatório aqui.

Como a Economia Informal Abastece a Exploração e Enfraquece a Democracia

A Internacional Reacionária expõe o "manual do Uber" da gig economy: uma estratégia deliberada de infringir leis e influenciar a política para evitar a regulamentação.

Arquivos vazados mostram um esforço global coordenado para desregulamentar mercados à força, explorar sistematicamente trabalhadoras e trabalhadores, classificando-os erroneamente para negar salários e benefícios justos—e transferir todos os riscos da função para elxs.

Em última análise, essa exploração é mascarada como empoderamento por meio de lobby e dinheiro obscuro, um modelo que agora se expande para as economias vulneráveis ​​do Sul Global.

Leia o caso aqui.

Arte da Semana


Esta tapeçaria, baseada na famosa pintura de Pablo Picasso, exposta na sede das Nações Unidas em Nova York, foi tecida pelo Atelier J. de la Baume-Durrbach, no sul da França, em um processo supervisionado pela artista.

Pablo Picasso criou Guernica em seu ateliê em Paris em 1937, atendendo a uma encomenda da República Espanhola para produzir obras de arte para o pavilhão espanhol na Exposição Internacional de Paris daquele ano. A pintura leva o título da cidade basca de Guernica, devastada por bombardeios aéreos durante a Guerra Civil Espanhola.


Apresentada em tons monocromáticos de preto, branco e cinza, a obra transmite a brutalidade da guerra por meio de imagens fragmentadas de figuras humanas e animais atormentados, imersos em destruição e caos. Nas Nações Unidas, hoje, ela serve como um lembrete de que a era da guerra está longe de terminar.

Available in
EnglishSpanishPortuguese (Brazil)GermanFrench
Translator
Andre Carneiro
Date
22.09.2025
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