Imperialism

"Cuba, Nicarágua, Granada: Juntos Venceremos"

O discurso de Maurice Bishop em Havana, em 1980, continua sendo um poderoso manifesto de unidade caribenha e resistência anti-imperialista.
Proferido diante de 1,5 milhão de pessoas em Havana, o discurso de Maurice Bishop em 1980, "Cuba, Nicarágua, Granada: Juntos Venceremos", articulou uma visão de solidariedade entre os movimentos revolucionários do Caribe e da América Latina. Falando como líder do Governo Revolucionário Popular de Granada, Bishop ressaltou os destinos entrelaçados de Cuba, Nicarágua e Granada em sua luta compartilhada contra o imperialismo dos EUA e a exploração capitalista.

"Viva a Revolução de Granada! Viva a unidade militante e a solidariedade dos trabalhadores de todo o mundo!"

Em 25 de outubro de 1983, os Estados Unidos invadiram Granada, uma pequena república insular no leste do Caribe, com aproximadamente 34 quilômetros de comprimento por 19 quilômetros de largura, com uma população, na época, de 94.948 habitantes. 

Apesar de seu tamanho geográfico, Granada era vista pelos Estados Unidos como uma ameaça política significativa e alarmante. Desde 1979, Granada tinha um governo socialista, o Governo Revolucionário Popular, liderado pelo carismático Maurice Bishop, do Movimento New Jewel. O país mantinha relações próximas com Cuba, Nicarágua e a União Soviética e havia se tornado um farol político de possibilidades revolucionárias para a esquerda em todo o Caribe.

Quando o governo de Bishop começou a construir, com apoio internacional (inclusive do Canadá e do Reino Unido), o Aeroporto Internacional de Point Salines (atual Aeroporto Internacional Maurice Bishop), Ronald Reagan condenou a ação como uma tentativa de soviéticos e cubanos fortalecerem sua presença militar na região. Na verdade, isso fazia parte de um plano de desenvolvimento econômico cujas origens remontavam à década de 1950.

O governo revolucionário de Granada, no entanto, logo entraria em colapso devido a conflitos políticos internos. Isso levou à prisão e execução de Bishop e mais sete pessoas, em 19 de outubro de 1983. Reagan, apoiando-se em planos elaborados por Casper Weinberger e Colin Powell, viu ali uma oportunidade. Os EUA lançaram a Operação Fúria Urgente, uma invasão militar com 7.600 soldados americanos, apoiada pela Jamaica de Edward Seaga e pelo Sistema de Segurança Regional do Caribe Oriental. Esse seria o fim abrupto e desanimador da Revolução de Granada e, com ela, como alguns argumentaram, das perspectivas de uma alternativa socialista democrática ao fundamentalismo de livre mercado dos EUA no Caribe.

Mas o que continua sendo importante para o Caribe é o fato de que havia uma alternativa. No Caribe atual, o neoliberalismo triunfou no campo de batalha ideológico, enquanto os EUA avançam rumo a uma nova ofensiva na guerra econômica e política pela região. Atualmente, enquanto seguem sufocando o que resta da Revolução Cubana, os EUA posicionaram 10.000 soldados no Caribe com o aparente objetivo – firmemente apoiado pela liderança neoliberal, servil e pró-EUA da Guiana e de Trinidad e Tobago – de derrubar Nicolás Maduro, destruir a Revolução Bolivariana e assumir o controle dos recursos do país.  

À medida que o Caribe enfrenta tanto as ações mafiosas e genocidas dos EUA quanto uma classe dirigente caribenha capturada e subserviente, torna-se oportuno refletir sobre alternativas viáveis para a região. Em 1980, Maurice Bishop fez um discurso para um comício de 1,5 milhão de pessoas em Havana. Intitulado Cuba, Nicarágua, Granada: Juntos Venceremos, Bishop reuniu as revoluções de Cuba, Nicarágua e Granada para defender as possibilidades revolucionárias de unidade e autodeterminação caribenhas diante do imperialismo dos EUA. Seria prudente levarmos suas palavras a sério.

Reproduzimos abaixo o discurso de Bishop.

Cuba, Nicarágua, Granada: Juntos Venceremos

Maurice Bishop

Estimado camarada Fidel Castro, Estimado camarada Daniel Ortega, Amados camaradas revolucionários da Cuba livre e revolucionária

Trago-lhes hoje calorosas saudações revolucionárias do povo de Granada livre. [Aplausos] Esta manhã, camaradas, eu estava discursando em um comício em meu próprio país para homenagear o Dia Internacional do Trabalhador e deixei meu país pouco depois das 11 horas desta manhã para viajar mais de 1.000 milhas até chegar ao país de vocês. Mas, mesmo que a distância fosse de 10.000 milhas, nenhuma força na terra poderia ter me impedido de estar aqui hoje. [Aplausos]

A unidade, a solidariedade militante que unificam nossos países, as lutas de nossos povos — é essa mesma unidade e solidariedade que hoje fazem o imperialismo tremer, porque reconhecemos em Granada, assim como os imperialistas reconhecem, que sem a Revolução Cubana de 1959 não poderia ter havido a Revolução de Granada, nem a Revolução da Nicarágua em 1979. [Aplausos]

Foi a Revolução Cubana que ensinou aos povos da América Latina e do Caribe como enfrentar bloqueios, como derrotar invasões criminosas aos seus territórios. Os povos desta região olharam para Girón, olharam para La Coubre, olharam para Escambray, olharam para as tentativas de assassinato contra sua liderança; eles se lembram da destruição de seu avião cubano em outubro de 1976; eles viram suas lutas; eles se inspiraram em suas vitórias; e observaram que, mesmo diante dessas dificuldades, a Cuba revolucionária foi capaz de erradicar o analfabetismo, a prostituição, o uso de drogas e o desemprego. Eles viram vocês construírem o socialismo em seu pequeno país. Viram seus avanços e conquistas em saúde e educação. Viram que hoje, 21 anos após sua revolução, seu país é capaz de ajudar mais de 30 países ao redor do mundo. E países como Granada e Nicarágua sempre se sentirão gratos ao povo de Cuba e à Revolução Cubana por sua assistência com seus médicos, seus professores e seus trabalhadores abnegados.

Certamente nós, em Granada, nunca esqueceremos que foi a assistência militar de Cuba, nas primeiras semanas de nossa revolução, que nos deu a base necessária para a defesa de nossa revolução. [Aplausos] E quando o imperialismo e a reação continuam nos perguntando, em Granada, por que queremos armas, de onde vêm as armas, por que um país tão pequeno precisa de tantas armas, sempre damos a eles a resposta que nosso povo já deu. Sempre que mercenários ou agressores estrangeiros desembarcarem em nosso país, eles descobrirão quantas armas temos, se sabemos usá-las e de onde elas vieram, enquanto derramamos seu sangue em nosso solo. [Aplausos]

Sua revolução, camaradas, também proporcionou à região e ao mundo uma lenda viva: o seu grande e indomável líder, Fidel Castro. [Aplausos] Fidel nos ensinou não apenas a lutar, mas também a trabalhar, a construir o socialismo e a liderar nosso país com espírito de humildade, sinceridade, compromisso e firme liderança revolucionária. [Aplausos]

É importante estar na Cuba revolucionária neste período da história mundial. Hoje podemos ver mais uma crise no capitalismo internacional. Hoje vemos os capitalistas reclamando que seus superlucros estão caindo. Vemos também suas taxas de juros avançando rumo aos 20 por cento. Até as merendas escolares que fornecem aos seus filhos, até isso eles tiveram que cortar em mais de US$ 500 milhões. Seus trabalhadores descobrem, dia após dia, que os empregos estão desaparecendo. Mas os mais de US$ 33 bilhões em lucros obtidos com investimentos ao redor do mundo exige que eles criem novas tensões no mundo, para que sua economia, baseada na guerra e no armamento, volte a florescer.

Eles também estão aterrorizados com as vitórias dos movimentos de libertação nacional na África, na Ásia, no Oriente Médio e aqui mesmo na América Latina. Eles olham ao redor e veem que hoje as lutas dos povos da região continuam alcançando novos patamares. Eles olham para El Salvador e reconhecem que, se ontem foram Cuba, Nicarágua e Granada, amanhã, sem dúvida, será El Salvador. [Aplausos]

Assim, eles decidiram intensificar o fornecimento de armas e a corrida armamentista. Decidiram abandonar o SALT II e a política de distensão. Decidiram gastar, só neste ano, mais de US$ 142 bilhões em armas. Ao mesmo tempo, as invasões que caracterizaram suas relações com nossa região ao longo dos anos, começando com a Doutrina Monroe, em 1823, agora estão sendo usadas para moldar novas doutrinas, planejar novas manobras e obter novas bases para fortalecer e aprofundar sua presença militar, na esperança de que isso esmague a onda crescente de consciência de libertação nacional que está varrendo nossa região e o mundo.

Suas intervenções no México, na Nicarágua, na Colômbia, no Panamá, na República Dominicana, no Haiti e em Honduras, todas essas invasões que realizaram ao longo dos anos, agora os levam, mais uma vez, a lançar uma nova campanha de terror e intimidação contra o povo de nossa região. 

Mas, às vezes, já não se trata mais de intervenção direta; às vezes, eles recorrem sobretudo ao controle e à manipulação, ao uso da ameaça de força, às técnicas de desestabilização, à pressão diplomática, à propaganda de caráter desestabilizador, à política de isolamento econômico. Mas, em todos os casos, tudo isso tem um único objetivo: criar condições para um golpe de Estado organizado ou apoiado pelos Estados Unidos.

Em 1954, eles conseguiram derrubar Árbenz, na Guatemala. Em 1973, eles conseguiram derrubar Allende, no Chile. Mas a lição que eles nunca esqueceram e jamais esquecerão é que, em 1961, fracassaram quando tentaram fazer isso em Girón, bem aqui na Cuba revolucionária! [Aplausos]

Hoje podemos ouvi-los levantando a voz contra o processo revolucionário na Nicarágua e em Cuba. Ouvimos eles falarem de direitos humanos, ouvimos eles exigirem eleições, mesmo que não entendam que nossas revoluções são revoluções populares. Podemos vê-los encorajando ultraesquerdistas em nossos países a praticar ações violentas contra nossos povos. A propaganda deles chegou a um ponto em que nossos países se tornaram temas eleitorais na campanha presidencial deles. E, ao mesmo tempo, como de costume, as ameaças contra a Cuba revolucionária, a continuidade do criminoso bloqueio econômico contra a Cuba revolucionária e a criação de uma crise artificial após outra. Primeiro, a questão das tropas soviéticas, em outubro do ano passado; agora, a questão dos chamados “refugiados”. Tudo isso faz parte da campanha imperialista para tentar difamar a revolução cubana, para isolar o povo cubano, para lançar as bases para uma invasão armada ou outra forma de intervenção em seu querido país, Cuba. Mas, em Granada, temos usado um lema, e esse lema diz: “Se eles tocarem em Cuba ou na Nicarágua, tocam também em Granada.” [Aplausos]

Camaradas, como povos que são donos desta região, como aqueles a quem pertencem esses países, cabe a nós decidir o que queremos fazer com nossas vidas em nossas próprias nações. Cabe a nós, os povos da região, decidir se queremos ou não bases militares em nosso território. Cabe a nós decidir se queremos ou não que aviões de outros povos sobrevoem nossos países. E um dos atos mais desprezíveis e arrogantes do imperialismo hoje é presumir que, em 1980, não apenas têm o direito de manter uma base em Guantánamo, mas também o de realizar manobras militares no próprio solo da Cuba livre e revolucionária.

Nós, os povos desta região, exigimos que nossa região seja reconhecida e respeitada como uma zona de paz. Exigimos o fim de todas as forças-tarefa militares e de todas as patrulhas aéreas e marítimas em nossa região. Exigimos que os povos da região estejam livres do assédio militar agressivo de qualquer potência. Exigimos o fim da Doutrina Monroe, da Doutrina Carter e de todas as demais doutrinas que visam perpetuar o intervencionismo ou a lógica de “quintal” na região. Deve haver um fim para todas as tentativas de usar o chamado aparato de manutenção da paz da Organização dos Estados Americanos para intervir militarmente na região e para conter movimentos progressistas e patrióticos.

Também exigimos hoje que o direito à autodeterminação de todos os povos da região seja reconhecido e aceito.

Hoje reiteramos nosso apelo pela independência do povo irmão de Porto Rico. [Aplausos]

Hoje insistimos que todos os povos da região que vivem nos 25 países coloniais que ainda existem – territórios ingleses, holandeses, franceses ou americanos – tenham o direito à independência. Exigimos que um princípio de pluralismo ideológico seja respeitado e praticado pelas potências imperialistas.

Devemos ter o direito de construir nossos processos à nossa maneira, livres de interferências externas, livres de todas as formas de ameaças ou tentativas de nos forçar a aceitar os processos de outros povos.

Hoje insistimos que deve haver um fim às invasões, um fim aos desembarques de fuzileiros navais, um fim às canhoneiras, um fim a Playa Girón (a invasão da Baía dos Porcos), um fim às matanças e massacres de nossos Sandinos, nossos Ches e nossos Allendes. [Aplausos]

Apelamos também pelo fim do armamento e do financiamento de regimes contrarrevolucionários e antipopulares, antidemocráticos ou antiprogressistas. Deve haver um fim à manipulação das tensões regionais e mundiais para fins eleitorais. O futuro da região e o futuro do mundo, a questão da paz mundial, não podem ser comprometidos por causa de qualquer eleição, seja de quem for.

Portanto, deve haver respeito à soberania, à igualdade jurídica e à integridade territorial dos países de nossa região. Está claro hoje, camaradas, que os planos desesperados do imperialismo podem ser derrotados mais uma vez, uma vez que permaneçamos organizados, vigilantes, [...] e demonstremos uma firme e militante solidariedade anti-imperialista.

Recorremos ao povo de Cuba, à sua revolução e à sua liderança para garantir que o processo revolucionário na região do Caribe e na América Central continue avançando com força.

Saudamos vocês, povo amante da liberdade da Cuba revolucionária. Saudamos seu grande e revolucionário líder, o camarada Fidel Castro. [Aplausos]

Viva o povo amante da liberdade da Cuba revolucionária! [Aplausos e gritos de "Viva!"]

Viva o Partido Comunista de Cuba! [Aplausos e gritos de “Viva!”]

Viva o camarada Fidel Castro! Viva a Revolução Nicaraguense! Viva a Frente Sandinista de Libertação! Viva os movimentos de libertação nacional! Viva o mundo socialista! Viva a Revolução de Granada! Viva a unidade militante e a solidariedade internacional dos trabalhadores! Cuba, Nicarágua, Granada: Juntos venceremos! [Aplausos]¡Adelante siempre, atrás nunca! [Sempre em frente, nunca para trás!]

[Ovação]

Available in
EnglishSpanishPortuguese (Brazil)GermanFrenchItalian (Standard)
Translators
Mariana Caselli and Erika Perillo
Date
20.11.2025
Source
Black Agenda Report (BAR)Original article🔗
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