Newsletter da Internacional Progressista | No. 15  |  O Espírito de Bandung

Há setenta anos, a Conferência dos Povos Afro-Asiáticos se reuniu em Bandung, Indonésia. Esta semana, a Internacional Progressista desembarca na Índia: para celebrar o espírito de Bandung e explorar o que pode emergir das cinzas de uma hegemonia imperial em declínio.
Na 15ª Newsletter da Internacional Progressista de 2025, além de outras notícias do mundo, e em paralelo ao desembarque da nossa delegação global na Índia, nós rememoramos a Conferência dos Povos Afro-Asiáticos de 1955. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

“O Ocidente está excluído.” Richard Wright relatou da Conferência de Bandung de 1955: “A ênfase está nas nações de cor do mundo… O colonialismo está fora de questão. Não interferir é a palavra-chave. A Ásia está livre.” Isso resumiu os objetivos de um encontro que reuniu 29 nações recém-independentes, representando mais da metade da população mundial.

Há setenta anos, a Conferência dos Povos Afro-Asiáticos reuniu-se em Bandung, Indonésia, para construir uma frente comum de solidariedade, soberania e cooperação Sul-Sul. Ao longo de uma semana, o encontro abordou questões comuns aos povos de ambos os continentes.

Malcolm X, que participou da Conferência de Bandung, observou que "os povos que aqui se reuniram não possuíam armas nucleares, não possuíam aviões a jato, não possuíam todos aqueles armamentos pesados ​​que o homem branco possui. Entretanto, eles tinham unidade".

A promessa de um bloco soberano, não-alinhado  e unido gerou medo no coração do império. Preocupado com a possibilidade de Bandung alimentar o sentimento anti-imperialista em suas colônias restantes, o Estado britânico forçou a Costa do Ouro e Cingapura a evitar o envio de delegações.

Em colaboração com Washington, o Ministério das Relações Exteriores britânico manipulou a pauta da conferência para impedir que uma resolução considerada "vantajosa para os comunistas" e "inimiga dos interesses britânicos" chegasse ao plenário. Enquanto missões diplomáticas britânicas em 37 países instavam os delegados a "resistirem a propostas de que a Conferência endossasse reivindicações controversas de extensão de soberania", os EUA examinaram e filtraram as contribuições de certas nações aliadas.

No fim das contas, porém, essa ofensiva de propaganda se mostrou inútil. A Conferência dos Povos Afro-Asiáticos estabeleceu 10 "princípios de Bandung" que inspirariam projetos concretos de cooperação com o Sul Global—desde o Movimento dos Países Não Alinhados (MNA) e o Grupo dos 77—até alianças políticas duradouras que buscavam desafiar arranjos imperiais e transcender as rivalidades da Guerra Fria.

Enquanto os Estados Unidos e seus satélites buscavam afirmar sua dominância desestabilizando secretamente outros movimentos democráticos ao redor do globo, as nações de Bandung se comprometeram a abster da "intervenção ou interferência em assuntos internos de outros países" e de "atos ou ameaças de agressão ou uso da força contra a integridade territorial ou independência política de qualquer outra nação".

Delegados e delegadas tinham ciência dos objetivos imperialistas. Nos curtos seis anos que antecederam a conferência, a CIA teria planejado um golpe de estado na Síria, tombado a democracia no Irã e forçado Jacobo Árbenz a fugir da Guatemala. Na Indonésia, o Primeiro Ministro indiano, Jawaharlal Nehru, fez campanha contra a aterrorizante influência do aparato de segurança de Washington. A adesão à Organização do Tratado Central (CENTO) ou à Organização do Tratado do Sudeste Asiático (SEATO), disse Nehru, privaria as nações de suas "liberdades e dignidades", tornando-as nada mais que "adeptas seguidoras de acampamentos militares".

“É um pensamento intolerável para mim”, disse o primeiro-ministro indiano, “que os grandes países da Ásia e da África saiam da escravidão para a liberdade apenas para se degradarem ou se humilharem dessa maneira”.

A posição de Jawaharlal Nehru e sua subsequente liderança dentro do MNA garantiram à Índia um lugar central na história da cooperação Sul-Sul. Durante décadas após 1955, a Índia permaneceu como uma bússola moral em um mundo polarizado, insistindo na paz em vez da guerra e na autodeterminação em vez da dominação.

Hoje, a Índia encontra-se numa encruzilhada. Como a maior população do mundo e uma potência do Sul global, o país tem o potencial de liderar uma frente renovada de nações comprometidas com a paz e a sobrevivência planetária. Mas esse caminho vem sendo bloqueado pelo autoritarismo interno e pela reação externa.

Enquanto a continuada investida genocida em Gaza tem trazido a falência moral da ordem internacional a tona, ela também vem desmascarando os cúmplices mais fiéis do colonialismo. Como um dos maiores compradores de armamentos israelenses, a Índia tem há muito subscrito a ocupação ilegal da Palestina. Desde outubro de 2023, o regime de Narendra Modi não só vem se abstendo de resoluções centrais na ONU, mas também enviado drones e trabalhadores a Tel Aviv para repor a mão de obra palestina.

Abrir caminho para que a Índia assuma novamente uma posição de liderança na luta pela justiça internacional exigirá determinação e organização das forças progressistas e dos movimentos populares do país. É por esse motivo que esta semana, setenta anos após a Conferência dos Povos Afro-Asiáticos, a Internacional Progressista retorna ao subcontinente: para celebrar o espírito de Bandung e explorar o que pode emergir das cinzas da hegemonia imperial em declínio.

À medida que uma nova ordem internacional toma forma após décadas de dominação incontestável, nossa delegação ajudará a forjar os laços e estratégias que renovarão e renovarão o espírito de 1955 para o século XXI.

A Agência da Internacional Progressista irá cobrir as atividades da delegação. Saiba mais clicando no link

Últimas do Movimento

Parem a Nexoe Maersk

Na quinta, seguindo a sua jornada pelos portos espanhóis, o Nexoe Maersk atracou em Tangier, onde o navio cargueiro coletou uma remessa de componentes de F-35 destinados à Israel.  O transporte de armamentos através do Marrocos tem gerado protestos em massa, com a participação de trabalhadores e trabalhadoras dos portos que se juntam ao público em geral a fim interferirem nos envios da Maersk—demandando um ponto final na cumplicidade marroquina no genocídio em Gaza.

O Sindicato dos Trabalhadores Portuários do Marrocos  publicou um documento conclamando os "trabalhadores, empregados e companhias" operando no Marrocos a "boicotarem a Nexoe Maersk", evitando assim a passagem de armamentos para Israel. De acordo com o Hespress, um site de notícias marroquino, trabalhadores portuários no Tangier Med Port pediram demissão em protesto à decisão das autoridades locais de permitir a atracação do Nexoe Maersk.

Uma Nova Iorque acessível?

Prometendo congelar os aluguéis e reduzir o custo de vida, a campanha de Zohran Mamdani para a prefeitura de Nova York continua ganhando força.

Mamdani, membro da Assembleia Legislativa do Estado de Nova York e socialista democrata, combinou reivindicações materiais, como ônibus gratuitos e supermercados municipais, com uma estratégia de comunicação popular, com grande sucesso, arrecadando US$ 8 milhões de 18.000 pequenos doadores em toda a cidade de Nova York.

Nas semanas que se passaram, a campanha de Mamdani vem diminuindo a distância que o separa do seu adversário no 1, o ex-governador Andrew Cuomo, que em Novembro se juntou à equipe jurídica que defende Benjamin Netanyahu das acusações de crimes de guerra em Haia.

Arte da Semana

Black Masks on Roller Skates (Máscaras Negras em Patins, em tradução livre), de Amol K. Patil, é uma obra de arte de uma série exibida na Documenta Fifteen, em Kassel, em 2022. A obra em andamento abrange esculturas e performances inspiradas na linhagem de ativistas criativos da classe trabalhadora de Patil e visa recapturar os "movimentos pulsantes e vibrantes e o som da arquitetura 'chawl' ". Chawls são estruturas habitacionais sociais de cinco andares construídas no início dos anos 1900 em Mumbai para abrigar operários de moinhos e fábricas, uma arquitetura familiar à juventude de Patil.

Amol K. Patil (1987, Bombaim, Índia) é um artista conceitual que trabalha com performance, instalações cinéticas e vídeo-instalações. Black Masks on Roller Skates baseia-se em sua experiência com Chawls; seu pai, apresentando o dilema de viver como imigrante; e na poesia Powada de seu avô, defendendo uma tradição de protesto que rejeita o sistema de castas.

Seu trabalho recente tem despertado interesse na "invisibilidade da classe trabalhadora nos imaginários urbanos emergentes".

Available in
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Translator
Andre Carneiro
Date
25.04.2025
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