Esta história foi publicada originalmente em Truthout em 1 de abril de 2025. É compartilhada aqui com permissão.
Na manhã de 25 de março, o organizador de trabalhadores agrícolas Alfredo "Lelo" Juarez foi detido à força por agentes do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE), que pararam o seu carro enquanto levava a esposa ao trabalho no condado de Skagit, Washington. As pessoas com quem Juarez falou disseram que ele pediu para ver um mandado judicial e, quando tentou pegar o documento de identificação requisitado a ele, os agentes do ICE quebraram a janela de seu carro e o detiveram.
Juarez, de 25 anos, ajudou a fundar o Familias Unidas Por La Justicia, um sindicato independente de trabalhadores agrícolas no estado de Washington em 2013, quando era apenas um adolescente. Ele tem defendido questões como pagamento de horas extras, proteções contra o calor para trabalhadores agrícolas e a natureza exploratória do programa de trabalhadores temporários H-2A. Juarez é um membro amado da comunidade indígena de trabalhadores agrícolas mixtecos e tem recebido demonstrações de apoio no estado de Washington e em todo o país.
Juarez encontra-se atualmente detido no Centro de Processamento do ICE no Noroeste em Tacoma. Sua detenção ocorre no momento em que o governo Trump intensifica seu ataque contra imigrantes e trabalhadores. Membros do sindicato e ativistas dos direitos dos imigrantes foram detidos. O governo também intensificou os ataques contra estudantes estrangeiros que se manifestaram pelos direitos dos palestinos, como Mahmoud Khalil e Rumeysa Ozturk.
Para saber mais sobre a situação de Juarez, Truthout conversou com Edgar Franks, diretor político do Familias Unidas, sobre o organizador dos trabalhadores agrícolas e sua detenção, as manifestações de apoio a ele e muito mais. Franks, que também falou com Truthout em novembro passado sobre os desafios enfrentados pelos trabalhadores agrícolas após a reeleição de Trump, trabalhou de perto com Juarez –– que atende por "Lelo" –– por mais de uma década.
Derek Seidman: Para começar, o que é importante que os leitores saibam sobre Lelo?
Edgar Franks: O mais importante é o quanto ele se importa com os problemas dos trabalhadores agrícolas e quanto os tem defendido, especialmente a comunidade de trabalhadores rurais indígenas mixteca à qual ele pertence. Uma razão pela qual ele organiza é que há muitos poucos organizadores no estado que abordam os problemas dos indígenas mexicanos de sua comunidade. Ele é muito comprometido com sua comunidade e todos os problemas que afetam trabalhadores agrícolas e imigrantes. Ele está sempre disponível, sempre que as pessoas o chamam, porque acredita muito na causa.
Ele foi uma das pessoas que mais ajudaram a iniciar o nosso sindicato. Quando começamos, a comunicação com alguns dos trabalhadores era difícil porque ainda usavam sua língua nativa e não falavam bem espanhol. Alfredo foi fundamental para preencher essa lacuna de comunicação porque falava inglês, espanhol e mixteco. Com ele, conseguimos realmente obter informações dos trabalhadores sobre o que eles queriam e ajudá-los a se organizar.
Ele também nos ajudou a fazer lobby pelas regras de horas extras para trabalhadores agrícolas e as regras climáticas relacionadas ao calor e à fumaça. Todas as nossas recomendações vieram diretamente de trabalhadores com quem Alfredo falou. Ele sempre conversava com os trabalhadores. Ele também tem chamado atenção para como o programa H-2A para trabalhadores agrícolas temporários é explorador e como os produtores o usam como uma ferramenta para tirar o poder dos trabalhadores. Ele também tem feito lobby por questões como moradia e controle de aluguel.
Ele é um membro ativo do nosso sindicato desde a sua fundação. Ele é uma espécie de representante sindical. Tudo o que o sindicato fez tem as impressões digitais de Alfredo por toda parte.
Como você entende a detenção dele? Qual é a sua análise do que aconteceu?
Acreditamos que a detenção dele tem motivação política por ele organizar a comunidade de trabalhadores agrícolas e imigrantes. Acreditamos que ele foi visado. A maneira como o ICE o deteve foi feita para intimidar. Eles quase não deram qualquer chance para ele se defender ou explicar. Ele não resistiu e apenas pediu para ver o mandado judicial. Eles pediram para ver o documento de identidade dele e, justo quando ele o estava alcançando, quebraram a janela do carro. Os agentes do ICE escalaram a situação muito rapidamente. Pelo que ouvimos, levou menos de um minuto entre ele ser parado e acabar algemado.
Acho que a intenção era causar medo e intimidar Alfredo, mas também enviar uma mensagem para outros que se manifestam contra o ICE e a favor dos direitos dos imigrantes, avisando que é isso o que acontece com quem tenta revidar.
Nos últimos anos, temos visto pessoas serem paradas e solicitadas a fornecer seus documentos, mas agora isso tem se tornado mais agressivo. O ICE está assediando e intimidando pessoas sem ao menos mostrar um mandado judicial. O ICE tem carta-branca para fazer o que quiser. Quando agentes federais não são realmente supervisionados, isso os capacita a ser violentos e coercivos com todo mundo. O tom estabelecido pelo governo Trump dá a agentes do ICE e à Patrulha de Fronteira a sensação de serem irrefreáveis. Isso é muito preocupante.
Pode falar sobre as manifestações de apoio a Lelo?
Tem sido ótimo ver o apoio imenso a Alfredo. Isso mostra a extensão do impacto que ele teve no estado e em toda a nação. Tem sido muito bom ver a solidariedade de pessoas que, provavelmente, nunca nem o conheceram ou que não têm conhecimento sobre a luta dos trabalhadores agrícolas, mas que sabem que ocorreu uma injustiça.
Um comício foi organizado em 27 de março pelo Conselho do Trabalho do Estado de Washington, que representa todos os sindicatos no estado. Eles apareceram no centro de detenção para pedir a libertação de Alfredo e de outro membro do sindicato, Lewelyn Dixon. Para nós, como um sindicato, o mais importante é ver nossa família de trabalhadores assumir responsabilidades. Durante a campanha presidencial, vimos como trabalhadores e sindicatos foram usados por Trump, mas agora todos os nossos companheiros de trabalho estão vendo o que realmente acontece aqui, que Trump está usando imigrantes para atacar trabalhadores e sindicatos. Tem sido ótimo ver os sindicatos realmente se posicionarem ao lado dos trabalhadores imigrantes.
O que afeta todos os outros também afeta os imigrantes. No final das contas, todos queremos comida, moradia e boas escolas. Os imigrantes não têm nada a ver com o aumento dos custos de moradia, gás ou ovos. As dificuldades que estão, de fato, afetando a vida das pessoas não são causadas por imigrantes. Elas são causadas pelo sistema e por bilionários, como Elon Musk. O descontentamento das pessoas é real, mas a raiva delas está sendo apontada aos imigrantes, e não é para lá que ela precisa ir.
Como Lelo está? O que você ouviu?
Obviamente ele está chateado. Sente falta da família e dos amigos. Ele também ficou muito tocado por todas as ações que estão em andamento. Mas quando alguns de seus apoiadores foram vê-lo na semana passada, sabe qual foi a mensagem dele? Para continuar a lutar e se organizar. Isso nos dá força e confiança para seguir em frente. Lelo quer que lutemos, então vamos lutar. Se ele está lutando lá dentro, vamos continuar a luta por ele do lado de fora.
Agora ele tem representação legal, o que foi uma grande preocupação para nós. Podemos lutar o quanto quisermos do lado de fora, mas realmente precisamos de defensores no sistema judiciário para ajudar Alfredo. Estaremos lá para o que a equipe legal precisar para impulsionar a luta, inclusive para criar pressão nas ruas.
A detenção de Lelo ocorre em meio a uma repressão maior nos EUA. Você vê conexões?
Lelo está preocupado com outros que estão sendo detidos. Lewelyn Dixon é técnica de laboratório da Universidade de Washington e membro do SEIU 925. Ela possui cartão de residência permanente e vive nos Estados Unidos há 50 anos. Ela está no centro de detenção de Tacoma.
Há o caso da ativista dos direitos dos imigrantes Jeannette Vizguerra em Denver. Há o caso de Mahmoud Khalil na Universidade de Columbia e outros estudantes detidos que se manifestam a favor da Palestina. Não se trata mais de coincidência. Essa é a tendência agora, o que é muito preocupante. Os EUA falam muito sobre governos repressivos na Venezuela ou em Cuba, mas há prisioneiros políticos agora mesmo no país.
Você acha que a detenção de Lelo faz parte de um plano maior de ataque contra a organização de trabalhadores agrícolas?
Desde o começo, achamos que o Projeto 2025, com o plano de deportações em massa, tinha como objetivo amedrontar as organizações de trabalhadores agrícolas que estavam ganhando força. O objetivo era silenciá-las, deportar o maior número de pessoas possível e trazer uma força de trabalho cativa através do programa H-2A.
Achamos que esse pode ser o plano final: livrar-se de todos os trabalhadores imigrantes que se organizam e lutam por condições melhores e trazer uma força de trabalho completamente controlada pelo empregador, basicamente sem direitos. Vai ser ainda mais difícil se organizar com trabalhadores agrícolas se vierem mais trabalhadores do H-2A. Não ia ser impossível, mas vai ser mais difícil. Todos os ganhos obtidos nos últimos dois anos para os trabalhadores agrícolas estão em risco.
O que você pede para os apoiadores fazerem?
Alfredo é apaixonado por organização. Onde quer que você esteja, lutas semelhantes acontecem. Quer esteja em Nova Iorque, Flórida, Texas ou Califórnia, há organização para direitos dos imigrantes e trabalhadores que precisam de tanto apoio quanto ele. Devemos ir às comunidades locais e apoiar os que organizam campanhas.
Devemos ver o caso de Alfredo como um exemplo de como ele é eficaz e como isso ameaça o estabelecimento. Mas ao mesmo tempo, ele não gostaria que as pessoas parassem de se organizar porque ele foi detido. Ele gostaria que as pessoas se organizassem ainda mais.
Você trabalhou de perto com Lelo por mais de uma década. Quais são algumas lembranças que vêm à tona que mostram mais quem ele é?
Quando começamos a nos organizar em 2013, ele tinha apenas 14 anos. Muitos trabalhadores agrícolas não sabiam falar inglês, então, esses trabalhadores, que eram adultos, pediam a Alfredo para apresentar seus casos. Ele era só um adolescente, basicamente uma criança, e recebeu a responsabilidade de representar trabalhadores agrícolas ao falar em reuniões com centenas de pessoas. E quando ia, falava de modo eloquente por mais de uma hora sobre a vida de um jovem trabalhador agrícola e por que esses trabalhadores precisavam de um sindicato. A campanha tinha talvez dois meses, mas ele já havia captado a ideia de por que os sindicatos eram importantes mesmo sendo tão jovem.
Eu me lembro de tudo isso porque eu tinha que dirigir, já que ele era jovem demais! Então, eu o levava para falar com igrejas, sindicatos ou outros grupos da comunidade. Ele estava fazendo tudo isso aos 14 anos. Eu ficava maravilhado. Eu não conseguia falar por dois minutos sem ficar nervoso, mas eis aqui esse jovem de 14 anos, que era capaz de falar por uma hora!
Ele também foi convidado à Conferência de Notas Trabalhistas de 2022 para apresentar o trabalho do sindicato, e me lembro de como ele ficou animado com a presença de Bernie Sanders. Ele teve a oportunidade de entregar a Bernie uma carta sobre nossa campanha de oposição à Lei de Modernização da Força de Trabalho Agrícola. Ele ficou tão animado para conhecer Bernie Sanders.
Ele ainda parece uma criança (risos). Gosta do Baby Yoda e de assistir desenho animado. Ele tenta aproveitar a juventude. E é muito humilde. Ele está com 25 anos agora, então quase metade de sua vida foi dedicada à organização. É incrível o quanto ele foi capaz de conquistar, mesmo sendo apenas um jovem rapaz.
Derek Seidman é um escritor, pesquisador e historiador em Buffalo, Nova York. Ele é um contribuidor regular para Truthout e um redator contribuinte de LittleSis.