Vista de longe, a máquina da guerra parece uma caixa preta sólida: incognoscível e inexpugnável. Ouvimos os sons horríveis de bombas e o agudo penetrante de balas. Entretanto, os padrões envolvidos na sua produção e distribuição estão fora de vista—e, com muita frequência, portanto, fora da nossa mente.
É quando abrimos a caixa preta que conseguimos ver a máquina de guerra como ela é: um complexo conjunto de cadeias de suprimentos, coordenadas por agências governamentais e povoadas por corporações, cruzando nossos mares e voando pelos nossos céus.
De fato, quando abrimos essa caixa preta é fácil ficarmos tontos com o labirinto dentro dela. Mas, ao revelar a arquitetura interna da máquina da guerra, podemos ver que cada elo dentro dessas cadeias interconectadas contém um ponto de interrupção em potencial.
O sistema não é automático. São os humanos que devem tomar decisões discretas—carregamento de materiais, licenciamento, voos, vendas, seguros. Aqui encontramos a fraqueza da máquina de guerra.
Mas para encontrar esses pontos fracos, precisamos da força coletiva para abrir essa caixa-preta. E para isso, precisamos de conhecimento. Um conhecimento detalhado, específico, granular: o tipo de conhecimento que foi intencionalmente obscurecido da visão pública.
A Internacional Progressista, junto de suas muitas organizações-membro e parceiros, se dedicou a essa tarefa, estudando, revelando e desafiando diferentes elos da cadeia. E as conclusões dessas investigações têm chocado o mundo.
Esta semana, a Internacional Progressista, o Movimento da Juventude Palestina (MJP) e o American Friends Services Committee divulgaram uma nova pesquisa condenatória expondo o fluxo de equipamento militar da Espanha para Israel. A notícia é explosiva na Espanha—e foi amplamente divulgada pelo El Diario.
Em maio do ano passado, o Ministro das Relações Exteriores espanhol José Manuel Albares anunciou que a Espanha não permitiria que material militar transitasse pelo país com destino a Israel. Investigações da IP e do MJP revelaram que entre maio e setembro de 2024 pelo menos vinte e cinco navios com material militar dos EUA para Israel transitaram no porto espanhol de Algeciras.
O último relatório vai do mar para o ar. Ele fornece evidências de mais de 60.000 peças de armamento transportadas por aeroportos espanhóis desde outubro de 2023, com a Base Aérea de Zaragoza servindo como um centro crítico para essas operações. Isso incluiu "peças e acessórios para artilharia, rifles, lançadores de foguetes/granadas e metralhadoras" e "peças e acessórios para revólveres e pistolas".
Os voos foram operados por seis companhias aéreas: Challenge Air Cargo, as americanas National Air Cargo e Atlas Air, a islandesa Air Atlanta Icelandic, a polonesa SkyTaxi e a uzbeque MyFreighter.
Três delas, a Challenge Air Cargo, a National Air Cargo e a Atlas Air, já haviam sido relatadas como sendo usadas para transportar carga militar para Israel, fretada pelos Estados Unidos. Tais voos foram documentados de várias bases aéreas dos EUA, incluindo Sigonella na Itália e Al-Udeid no Catar.
Após a publicação do relatório, a Relatora Especial da ONU sobre os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, emitiu uma declaração implorando ao governo espanhol "para interromper quaisquer voos militares para Israel. O genocídio de Israel contra o povo palestino não deve ser permitido pela terra e pelo trabalho espanhóis. Fazer o contrário não seria apenas uma contravenção ao Artigo 1º da Convenção de Genebra, mas também uma violação das obrigações legais dos estados de interromper a ocupação ilegal da Palestina por Israel, prevenir e interromper o genocídio, conforme determinado pela Corte Internacional de Justiça".
Sumar, o partido minoritário no governo de coalizão espanhol, apresentou uma queixa oficial ao Tribunal Nacional Espanhol solicitando que investigue possíveis responsabilidades criminais expostas pelas investigações.
As descobertas ressaltam uma realidade perturbadora: a infraestrutura da guerra continua envolta em segredo, sustentada por uma rede global de empresas criminosas que operam com impunidade. Apesar do custo humano devastador da agressão militar, os mecanismos que permitem essas atrocidades—companhias aéreas comerciais, contratantes privados e operações de logística sancionadas pelo Estado—raramente são examinados.
Essa investigação se baseia em um crescente corpo de evidências que expõe violações semelhantes em toda a Europa. Na Bélgica, as companhias aéreas enfrentaram indignação pública por transportarem carregamentos militares para Israel, enquanto na Irlanda, escândalos surgiram sobre o uso de aeroportos civis para facilitar embarques de armas. Esses casos revelam um padrão de cumplicidade, onde atores corporativos e estatais exploram brechas legais e cadeias de suprimentos opacas para alimentar a violência.
No entanto, mesmo quando essas revelações vêm à tona, ainda sabemos muito pouco sobre a extensão total dessa infraestrutura. Quem lucra com essas remessas? Quem faz vista grossa para suas consequências? Quem será responsabilizado pela destruição que elas permitem? E o mais importante, como elas podem ser interrompidas?
Este relatório é mais um passo para revelar a verdadeira—e mais frágil—natureza da máquina da guerra, para que possamos destruí-la juntos.
Pedimos que você o leia aqui, que o compartilhe amplamente em suas redes, que se junte aos nossos esforços para abrir a caixa-preta de uma vez por todas. Também compartilhe a reportagem do El Diario aqui.
Em 18 de fevereiro, Berlim testemunhou um evento marcante, ‘Reclaiming the Discourse: Palestine, Justice, and Truth’ (Recuperando o Discurso: Palestina, Justiça e Verdade, em tradução livre), organizado pelo membro da IP, o DiEM25 em colaboração com Jüdische Stimme, Eye4Palestine e Gaza Komitee Berlin. Apesar de enfrentar grandes desafios, incluindo intensa pressão das autoridades locais e da polícia—o que exigiu uma mudança de local de última hora—o evento surgiu como uma poderosa testemunha de resiliência e busca inabalável por justiça.
Originalmente planejado para ser sediado no Kühlhaus Berlin, o encontro foi obrigado a se mudar para a redação do Junge Welt (jornal alemão), na Torstraße 6, 10119 Berlin, devido a táticas coercitivas empregadas por políticos alemães e pela polícia de Berlim. Essas ações, que visavam silenciar o discurso sobre a Palestina, apenas fortaleceram a determinação dxs organizadorxs e participantes.
O evento ocorreu com casa cheia, enquanto muitos outrxs se juntaram via transmissão ao vivo.
A Internacional Progressista está com vagas abertas para duas posições.
Você pode ler mais sobre a função e aprender como se candidatar clicando aqui.
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Guiados pelo trabalho intelectual e prático da construção socialista no Sul Global, estamos construindo uma plataforma para enriquecer os debates, teorias e estratégias que sustentam nossa luta comum por um mundo melhor.
Você pode aprender mais sobre o programa e se inscrever no site da Academia do Povo.
Arte da campanha pelo Diretor de Design da Internacional Progressista, Gabriel Silveira.