Briefing

Newsletter da Internacional Progressista | No. 23  | A Guerra Santa da Internacional Reacionária

Nova pesquisa revela como o cristianismo carismático fornece a infraestrutura espiritual para a extrema direita global—de Washington a Buenos Aires.
Na 23ª Newsletter da Internacional Progressista de 2025, além de outras notícias do mundo, nós trazemos até você nossa nova pesquisa sobre o papel do Cristianismo Carismático como 'espinha dorsal espiritual' da emergente extrema-direita. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

“Acredito que você ouvirá do céu, e essa voz é mais importante do que a minha ou a de QUALQUER outra pessoa”, escreveu o embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, em uma mensagem de texto ao presidente Donald Trump. “Nenhum presidente em minha vida esteve em uma posição como a sua. Não desde Truman, em 1945”, disse Huckabee, sinalizando um chamado divino para lançar uma bomba nuclear sobre Teerã.

Mas a mensagem de Huckabee oferece mais do que um sinal. Como um entre muitos sionistas cristãos evangélicos que se aglomeraram no governo Trump, Huckabee é um sinal de alerta para uma Internacional Reacionária em ascensão—e para o papel da religião nela.

Armados com teologia, fanáticas e fanáticos como Huckabee afirmam não servir a nenhum partido ou nação, mas sim travar uma guerra santa em escala global, na qual o poder é um direito divino, quaisquer pessoas que se oponham são sabotadoras demoníacas e as eleições são batalhas cósmicas que às vezes podem exigir intervenção religiosa.

Nos Estados Unidos, essa nova aliança religiosa foi responsável por conceder autoridade divina a Donald Trump, posicionando-o como um 'Ciro moderno': um rei pagão ordenado biblicamente para cumprir os propósitos de Deus—transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém ou limpar seu território de residentes palestinos.

Por trás dessas portarias estão poderosas lideranças cristãs carismáticas, cuja autoridade teológica e influência institucional conferem legitimidade à agenda da extrema direita. Após o primeiro impeachment de Trump, Paula White Cain—uma líder carismática e conselheira de Trump—postou no X: "Esta noite, elevamos nosso presidente, @realDonaldTrump, em oração contra toda a maldade e planos demoníacos contra ele e seus propósitos, em nome de Jesus."

Hoje, a Internacional Progressista divulga sua mais recente investigação sobre o papel do cristianismo carismático como 'espinha dorsal espiritual' da extrema direita em ascensão. Nela, revelamos como a nova igreja trava uma guerra espiritual para distorcer nossas democracias: tratando demônios como agentes reais e oponentes como verdadeiros "inimigos de Deus" a serem expurgados e perseguidos.


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Este movimento forneceu a justificativa teológica para o crescente extremismo em todo o mundo, emanando dos Estados Unidos e atingindo arenas políticas da Ásia e África até as Ilhas do Pacífico. De fato, na América Latina—onde o movimento evangélico cresceu em escala e influência—podemos detectar a influência do movimento carismático em praticamente todas as intervenções autoritárias: um golpe em Honduras, a sabotagem do processo de paz na Colômbia, outro golpe na Bolívia e outro no Brasil.

Nesse contexto, a ascensão de Jair Bolsonaro deve ser entendida por meio de sua estreita aliança com essas lideranças carismáticas. O bispo Edir Macedo apoiou publicamente Bolsonaro e pressionou apresentadores e apresentadoras de seu canal de televisão a direcionarem suas coberturas diárias a fim de apoiar a candidatura do, agora, ex-presidente e seus planos de golpe contra o governo do atual presidente Lula.

Enquanto isso, na Coreia do Sul, a tentativa de golpe do ex-presidente Yoon Suk-yeol encontrou seu maior apoio na comunidade evangélica, que espalhou teorias da conspiração sobre uma 'fraude eleitoral comunista' para justificar seus esforços de retomar o poder executivo pela força.

Mas a investigação que publicamos hoje vai além—mostrando como o cristianismo carismático não apenas intervém em momentos críticos do processo eleitoral, mas, em muitos casos, também se incorpora à infraestrutura do Estado e à estrutura da sociedade.

O presidente argentino, Javier Milei, por exemplo, concedeu US$ 9 milhões à Aliança de Igrejas Evangélicas da Argentina (ACIERA) para gerenciar a distribuição de alimentos, enquanto passava a motosserra nas políticas de bem-estar social do próprio Estado. O fracasso era previsível. Filas de pessoas famintas logo se formaram em frente ao gabinete da recém-nomeada 'Ministra do Capital Humano', Sandra Pettovello.

Em conjunto, nossa pesquisa sugere que a Internacional Reacionária depende fundamentalmente das instituições, ideias e influência dessa nova corrente do cristianismo para sobreviver e prosperar. No entanto, a pouquíssima cobertura da extrema direita até agora chamou a atenção para sua "espinha dorsal espiritual".

Nossa tarefa, então, é continuar a investigar—não apenas para compartilhar os resultados dessa pesquisa amplamente, mas para aprofundá-la, descobrindo os fluxos financeiros e o tráfego de favores que sustentam os elementos religiosos da Internacional Reacionária.

Convidamos você a ler o estudo de caso, a encaminhar este briefing para suas redes, a se inscrever no consórcio e— é claro—a considerar fazer uma contribuição para nossos esforços para revelar as atividades ilícitas desta crescente rede de agentes reacionários.

Últimas do Movimento

Será que o Sul Global consegue por fim ao genocídio?

“O norte global cuspiu nos direitos humanos”, disse à Ken Roth, Varsha Gandikota Nellutla, Coordenadora Geral da IP e Secretária Executiva do Grupo de Haia, em um programa especial de entrevista para a Al Jazeera English publicado esta semana.


Ao discutir o genocídio na Palestina e a cumplicidade do Norte Global, Gandikota Nellutla descreveu o trabalho do Grupo de Haia, um bloco de estados formado em janeiro deste ano com a missão de buscar "ações coletivas por meio de medidas legais e diplomáticas coordenadas em níveis nacional e internacional" em busca de responsabilização pelas graves violações do direito internacional por Israel contra o povo palestino.

Gandikota-Nellutla explicou a Roth, ex-diretor executivo da Human Rights Watch, que em resposta à ameaça da violência imperial, “o único antídoto é a ação coletiva”.

Quem são os terroristas agora?

O governo do Reino Unido está avançando com seus planos de classificar a Ação Palestina, um grupo de ação direta que contesta o genocídio de palestinos e palestinas por Israel, como uma organização terrorista. Uma vez proscrito, demonstrar apoio ao grupo pode levar a uma pena de 14 anos de prisão.

A decisão da Secretária do Interior, Yvette Cooper, foi amplamente condenada. O Movimento da Juventude Palestina, membro do IP, organizou protestos contra a medida. Um novo grupo de ação direta, usando a mesma fonte, cor e tática da Ação Palestina, anunciou-se esta semana, chamado 'Yvette Cooper'. Isso incita a Secretária do Interior, Yvette Cooper, a rotular o grupo de ação direta pró-palestina 'Yvette Cooper' como uma organização terrorista.

No maior festival de música da Grã-Bretanha, realizado neste fim de semana em Glastonbury, artistas se apresentaram diante de 200 mil pessoas e um mar de bandeiras da Palestina. Ao lado dos gritos de "Palestina Livre", camisetas com o slogan "Somos todos Ação Palestina" estavam espalhadas na plateia e no palco.

O Grupo de Haia informa o Parlamento Europeu

Na quarta-feira, os copresidentes do Grupo de Haia, Colômbia e África do Sul—representados pelos Embaixadores Olarte Bácares e Vusi Madonsela—informaram os membros do Parlamento Europeu em Bruxelas sobre o trabalho do Grupo de Haia e a próxima Conferência Ministerial de Emergência em Bogotá, nos dias 15 e 16 de julho. Eles conversaram ao lado de membrxs do secretariado do Grupo e da Embaixadora da Palestina em Bruxelas, Amal Jadou.

Ausência da Amazon

A Amazon não compareceu a uma audiência no Parlamento Europeu esta semana. A UNI Europa solicitou ao Parlamento Europeu que tome novas medidas contra a Amazon após a gigante da tecnologia não comparecer a uma audiência agendada na Comissão de Emprego e Assuntos Sociais (EMPL) do Parlamento sobre condições de trabalho—marcando a terceira vez desde 2021 que a empresa se recusa a dialogar com legisladores e legisladoras da UE.

Protestos no Quênia se tornam mortais, de novo

A polícia queniana matou vários manifestantes e feriu centenas de outros esta semana, enquanto os protestos antigovernamentais em Nairóbi se tornavam mortais. Um membro da IP, o Partido Comunista Marxista (Quênia), juntou-se à grande mobilização para comemorar os protestos históricos do ano passado contra o Projeto de Lei de Finanças do governo. Em 25 de junho de 2024, a polícia abriu fogo contra manifestantes desarmados, matando pelo menos 60 pessoas.

As mobilizações desta semana mostram que, apesar da violência do Estado, o povo do Quênia não recua na luta pela dignidade.

Aprendizado mútuo entre civilizações

Entre 25 de maio e 5 de junho, a Rede Chinesa de ONGs para Intercâmbios Internacionais (CNIE), em coordenação com os Amigos da China Socialista, recebeu uma delegação internacional em três regiões da China: província de Shaanxi, província de Gansu e Xangai. Delegadas e delegados, incluindo membrxs da Internacional Progressista, participaram do 4º Diálogo sobre Intercâmbios e Aprendizagem Mútua entre Civilizações e visitaram diversos locais históricos revolucionários, museus e empresas estatais para testemunhar e refletir sobre o rápido desenvolvimento possibilitado pelo projeto duradouro do socialismo chinês.

O relatório da delegação, preparado coletivamente pelas organizações envolvidas, está disponível para leitura aqui.

Arte da Semana

O Bom Pastor faz parte de uma série de fotografias de Ignatius Mokone, artista da África do Sul que trabalha com cinema e fotografia para documentar a criatividade, a resiliência e as tradições de seu país.

"Documentar é educar", disse Mokone, que estudou jornalismo em Londres antes de se interessar pelo poder da comunicação visual.

A série começou em 2018 em Sterkspruit, uma pequena cidade no Cabo Oriental, onde Mokone foi atraído para fotografar os pastores que continuam a praticar uma das ocupações mais antigas do mundo, passando meses entre os animais. Apesar do analfabetismo, os pastores criam mantos bordados que expressam orgulho cultural e individualidade com declarações em Tswana, incluindo: "EU NÃO SOU O QUE VOCÊS PENSARAM QUE EU SOU. EU SOU O QUE EU SOU".

Available in
EnglishSpanishPortuguese (Brazil)GermanFrench
Translator
Andre Carneiro
Date
29.06.2025
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